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Data 26/09/2009 21:44:14 | Tópico: Textos


falava-me do rés-do-chão do corpo, baixinho, mais com as mãos do que com a boca, deitava-se em silêncio, puxava para si a roupa e eu, nú, ficava a observar-lhe a pele manchada de sombras. chegava sempre tão cedo ao poema. às vezes não sabia que nome dar-lhe, chamava-lhe "ela" ou "eu", na voz dos outros era o que eu quisesse que fosse, tantas vezes "eu", poucas vezes "ela". gostava de ficar a observá-la quando acordava, sempre depois do amor. vestia-se de sentimentos, desses que não ardem nas veias, nem apodrecem nos gestos, nem se dão, tão egoístas como nossos. não sei nunca por onde começar os poemas quando são para ela, por isso nunca escrevo poemas.



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