A fome e o abutre

Data 22/06/2007 17:56:09 | Tópico: Sonetos

Escorre-me na alma o sangue
Vermelho vivo duma criança
Faminta, e há quem de mim mangue,
Porque a sua dor me alcança.

Em fartura, em conchas se fecham
Enquanto lhes aumenta a pança
Ignoram todos os que se queixam
Vivendo sem qualquer esperança.

Membros delgados, ventres inchados
E olhos negros esbugalhados,
De olhar a morte, já cansados.

E paira o abutre na fome
Sobre as peles e ossos deles,
Que já não mexem. Vai. Logo come.



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