Um sorriso parvo

Data 02/10/2009 13:48:32 | Tópico: Prosas Poéticas

Montei uma pilha de tijolos de papel, palavras recortadas, vírgulas pinçadas, linhas farpadas, vogais abertas, pontos descontínuos, tiles provocantes, e tudo isto para fazer uma torta de prosas doces. Burilei tudo na betoneira das ideias que escorregaram lamacentas na cofragem dos meus sentidos. Erro meu, ou talvez não, que os condimentos sangravam a cada toque os meus dedos arrancando deles o adn da loucura. Entupiram-me as veias, subiram-me a tensão, engravidei na asa de um beijo lido e na trombose acontecida nasci na dor de parto. Sou agora, apenas, um sussuro de ideias que pairam na memória das letras. Só quem o ouve conhece essa língua secreta e desvenda o que meus olhos fazem da esperança. Não há nesta fronteira, entre o ser e o poder, lugar para tudo o que é rasteiro, pequeno ou limitado. Nesta cidade de pedra, em que me sondam os vidros, já não há morte na calha, nem areia que me cubra, nem raios que me partam. Afinal valeu a pena porque o que queria dizer já esqueci. Sou agora o sorriso parvo mais feliz do mundo.


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