A Lenda do castelo do CONDE da MOLDÁVIA

Data 05/10/2009 16:31:33 | Tópico: Textos -> Outros


Capitulo – I

O MISTÉRIO DO PORTÃO ABERTO

Já faz algum tempo que o castelo do Conde da Moldávia encontra-se interdito aos turistas. À entrada do portão pode ler-se: “O castelo irá estar encerrado 3 meses ao público para obras de conservação ”. Uma das torres do castelo está muito degradada e por esse motivo os responsáveis pela conservação do monumento, decidiram proibir todo o acesso ao castelo.

Martim um jovem moldavo, vive com os seus pais muito perto daquele castelo e foi confrontado com aquela informação, quando decidiu um dia fazer-lhe uma visita.

A indignação tomou conta de Martim, não compreende porque razão ultimamente o enorme portão do castelo se encontra aberto depois da meia-noite. As conversas dos homens que frequentam as tabernas lá no bairro, andam em torno do que se tem passado ultimamente com a abertura do portão. Parece que pelos comentários, o mistério já não é só de agora.

Existe um verdadeiro mistério naquele castelo já faz alguns anos. Martim acha muito estranho,que quando sai da escola por volta das 18 horas,o portão do castelo, já se encontre já fechado a cadeado,dando a perceber, que os operários já não se encontram a trabalhar lá dentro. Mas porque razão se encontra então o portão aberto depois da meia-noite, se os trabalhos já estão encerrados muito antes daquela hora e o portão também?

Lembrou-se então de falar com o seu tio Moldiev, porque já o vira ali naquele mesmo portão um dia a descarregar materiais de construção. Talvez o seu tio soubesse de algo mais sobre este mistério e tivesse sobretudo respostas para satisfazer a sua curiosidade. Seu tio conduz um camião e faz entregas de areias e cimento para quase todas as obras da região e possivelmente saberia de alguma coisa, pensou ele.

Ficou então a saber que os trabalhos a realizar no castelo, terminam às 17 horas e que mais ninguém fica lá dentro, nem tão pouco está autorizado a permanecer no castelo para além do horário de trabalho acordado. Então, quem abriria a porta do castelo,durante a noite? Pensou o rapaz para consigo próprio.
No dia seguinte decidiu aproximar-se do portão do castelo e obter mais alguma informação junto de quem ali trabalhava.

Foi um rapaz muito moreno com ar simpático quem acabou por o esclarecer sobre parte daquele mistério.

Confirmou que os trabalhos acabam mesmo às 17 horas e por razões de protecção da natureza, os trabalhadores foram informados pelos responsáveis da recuperação do monumento, que não estão autorizados a deixar ficar quaisquer projectores de iluminação acessos durante a noite. O mesmo se passa com a segurança nocturna ao edifício. Não é permitida.

As causas de todas estas medidas por muito estranho que pareça, estão relacionadas com uma colónia de morcegos em via de extinção que ali habitam e que estão protegidas pelas leis do país.
Agradeceu ao rapaz que lhe prestou todas estas informações e educadamente despediu-se agradecendo toda a sua boa atenção.

Mas grande parte do mistério continuava sem resposta. Decidiu então esperar pela noite e deslocar-se de novo ao castelo na esperança de saber quem seria o autor ou responsável pela porta aberta depois da meia-noite. Já passava pouco mais da meia-noite quando olhou o seu relógio de pulso. A hora era a ideal para se deslocar ao castelo do Conde da Moldávia e ver como paravam as modas.

Quando chegou ao enorme portão de ferro, nada de estranho se passava. Parece que afinal talvez tivesse havido algum problema com o portão e fosse até necessário deixá-lo aberto para ser reparado ou algo parecido. Pensou que talvez fosse essa uma boa explicação para o que sucedera.

Afinal, estava conformado com o que os seus olhos lhe mostravam. O portão estava fechado e nada de estranho se passava. Resolveu então afastar-se e continuar a caminhar. De repente, a sua atenção foi direccionada por um barulho,parecendo ser proveniente de uma carroça. Ouviu os cascos de um cavalo. Mas o que faria uma carroça por aquelas bandas àquela hora da noite?

Decidiu encobrir-se com os arbustos de uma árvore pequena que ali estava mais próxima para observar quem seria o sujeito(a) e qual o caminho que procurava seguir. Quem quer que fosse, Martim observou que a carroça tinha uma tocha acesa.
Uma tocha acesa? Mas não seria bastante desactualizado para a época? -Interrogou-se o rapaz.

Esperou então que o condutor da carroça, se aproximasse perto dele, para tentar identificar o seu rosto, mas para grande surpresa de Martim, este, trazia a cara coberta com uma máscara.

Martim não estava a gostar nada daquilo que viu. A carroça continuou a sua marcha e parou pouco depois,precisamente no portão do castelo e ficou imobilizada como se chegasse ao seu destino. Estranhamente o mascarado desceu da carroça e tocou o enorme sino, que está pendurado do lado direito do portão.

Passados alguns momentos, eis que o pesado portão,começa a mover-se e sobe, fazendo uma tremenda chiadeira. Martim estava apavorado por assistir a tudo aquilo. Estava mais que arrependido, por ter dado ouvidos à sua curiosidade. As pernas começavam-lhe a tremer e a não lhe querer obedecer e isso era mau sinal.
Estaria de facto a sonhar?

Não, Martim não estava decididamente a sonhar. Apareceram no portão como em jeito de chamada ao som do sino de bronze, um brutamontes com cerca de dois metros de altura, muito forte, puxando pelo braço uma mulher com trajes negros, que dado o seu aspecto, parecia ser alguém importante.

Mas como saíram dali aquelas pessoas, se não está ninguém ali a residir? Pensou o rapaz. E porque razão estão vestidos com trajes antigos?
Já sei! Trata-se de actores que estão em filmagens e por essa razão as roupas são muito antigas.

Mas mais uma vez Martim estava errado. A carroça iniciou a sua marcha parecendo conhecer muito bem o seu caminho. Lá dentro sentada ia a mulher vestida de negro e o gigante que mais parecia ser o seu carrasco.

Capitulo – II
A DESCOBERTA DA CONDENSA DE TRHESA

Enquanto a carroça faz a sua marcha o gigante levanta-se do assento e agarra o que parece ser uma manta. Desdobrou o pano e para surpresa de Martim, lançou-a por cima da mulher de negro acabando por a tapar por completo.

Foi então que algo de sobrenatural aconteceu:

Uma enorme orla de fumo negro expandiu-se por toda a carroça e como se de magia se tratasse, desintegrou-se elevando-se no ar, levando consigo os seus ocupantes. Passados poucos segundos, surgiram do céu três morcegos voando em círculos largos desaparecendo logo em seguida por entre a escuridão da noite.

Apesar do susto o Martim estava agora aliviado. Tinha assistido a tudo aquilo a uma distância considerada confortável e naquele momento, já não estava perante a presença de nenhuma daquelas pessoas. O seu coração depressa voltou a ter as batidas normais.

Pensava agora como iria convencer os seus pais e amigos a acreditar na sua história. Tinha a certeza que quando começa-se a contar o que lhe sucedera ali naquele local durante aquela hora da noite, ninguém iria acreditar rigorosamente em nada.

No dia seguinte todos repararam no ar transtornado do rapaz. Foi a sua mãe a primeira a perguntar ao filho o que tinha para ter um ar tão sério.

Este mentindo, respondeu que não se passava nada. Foi a sua avó Nievha que tocou no assunto que perturbava o estado de espírito naquele momento do seu neto enquanto almoçavam.
- Parece teres cara de quem viu o conde da Moldávia! – Questionou a sua avó sorrindo ao mesmo tempo para agradar ao seu neto.

Martim ficou muito surpreendido por a sua avó ter soletrado o nome de alguém que já á uma centena de anos tinha desaparecido do mundo dos vivos.
Por acaso até vi! – Respondeu-lhe o neto. A avó Nievha estava bem-disposta e riu-se do rapaz e já em tom de quem acreditou á primeira na resposta do rapaz, voltou a questioná-lo de novo com a seguinte pergunta:

-Tiveste por acaso algum encontro com a carroça do castelo do Conde da Moldávia?
Como é que sabe tudo isso? – Perguntou logo o Martim estupefacto pela pergunta da avó.
A avó agarrou então no braço ma grito do seu neto e prometeu contar a este o que se tinha passado com ela própria quando ainda namorava o seu falecido avô depois da refeição.

O Martim estava muito contente por a sua avó lhe contar tudo aquilo. Afinal havia alguém que o compreendia e sabia o que realmente o afligia. Finalmente iria saber se tudo aquilo que acontecera com o portão do castelo, faria qualquer sentido.

Nievha estava um pouco perturbada quando começou por contar a lenda ao seu neto. Em 1443 o Conde da Moldávia, um homem com uma personalidade muito forte para a época, mandou então construir um castelo ali naquele mesmo local onde hoje está construído aquele que hoje dá pelo mesmo nome.
Ao que contaram algumas pessoas daquele tempo, mais tarde veio a descobrir-se que o Sr. Conde sofria de graves problemas mentais

O Conde não gostava de pessoas pobres nem de ninguém que fosse debilitado fisicamente ou mesmo que padecesse de qualquer doença e por esses motivos, todas as pessoas que conhecia com essas características, mandava matar e depois ordenava aos pedreiros que estavam a construir o seu castelo que as a cimentasse numa muralha especial que estava a ser erguida na torre norte.

Foi mais tarde a sua linda mulher a Condensa de Trhesa, que descobriu por mero acaso alguns corpos sepultados na tal muralha quando sem ter a permissão do louco do Conde, adoptou um cão perdigueiro com sentido de faro muito apurado e foi este que descobriu o macabro achado.
Mas o que sucedeu então à Condensa? – Perguntou Martim.

- Dizem os mais antigos e testemunhos da época, que a pobre rapariga levou o mesmo destino de tantas outras pessoas que ali foram sepultadas. A única diferença é que o Conde da Moldávia com receio e falta de coragem, mandou chamar um carniceiro da vila para tratar de executar a condensa fora do castelo, tudo por ter receio de alguém poder ver ou presenciar tão reprovável crime.

Então isso explica porque razão aquela carroça surgiu no castelo não é verdade avó?
- Sim, possivelmente pela tua cara, deves ter visto, não é meu neto? Quando era mais nova, costumava passar também pela frente do portão do castelo.

Uma certa noite quando esperava pelo teu avô para o namorico, surgiu uma carroça com uma tocha acesa. Desesperadamente tentei esconder-me mas não o consegui a tempo e a carroça passou por mim e pude reparar que era conduzida por um mascarado. Para meu grande alívio, ignorou-me como se eu ali não estivesse. Contei ao teu avô o que me tinha acontecido e ele riu-se e troçou de mim.

Soube então mais tarde a explicação para tudo o que me acontecera naquela noite, através de uma rapariga que descendia ainda da família da Condensa de Trhesa que por sinal era muito minha amiga e tinha andado comigo na escola.
A Condensa de Trhesa foi arrancada á força da vida e por esse motivo, rogou uma maldição a todos os que contribuíram para a sua execução.

Tal maldição veio a acontecer por cem anos e pelas minhas contas se não estou enganada, acabaram na noite em que te apareceu a carroça. Diz-se por aí que a carroça e as suas almas só deixariam de aparecer no castelo, quando passa-se cem anos.

Acabando de ouvir isto, Martim suspirou em tom de alívio e abraçou fortemente a sua avó. Finalmente parece que tinha chegado ao fim as aparições daquela lenda e os receios de dar de caras com o carrasco do Conde da Moldávia.

GABRIEL REIS







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