Rostos têm muito a dizer (a respeito do Big Brother)
Data 05/10/2009 22:03:33 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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Rostos: que aparecem, que parecem... Que desaparecem, que emudecem..
Refletindo sobre o 'Big Brother' e o processo de eliminação do princípio ético da alteridade promovida pela aldeia global.
Os rostos têm muito a dizer!
Muitas vezes a dissimular o sofrimento, Ou a esconder a dor Outras tantas a espantar o tormento Ou tímidos a manifestar o rubor
Os muitos rostos que vi ao longo da vida Sempre me marcaram a caminhada Todavia nem sempre os pude alcançar
Ou o seu significado decifrar!
O que me encanta é a sua expressão De conjugar tantos sentidos De modificar ante aos desafios
Ou se bloquear ante os temores...
Rostos, de uma gente oprimida Com uma expressão vaga de procura No olhar distante da cena que tortura Ante a violência que maltrata e aniquila.
Há todavia outros rostos Produzidos, maquiados, disfarçados Travestidos de heróis, gladiadores modernos Na grande aldeia dos Big Brothers
Enquanto anônimos rostos não medem limites e esforços Em suas ações por reduzir os grandes dramas humanos Uma emissora concessionária estimula a quebra da privacidade Com cenas bizarras, aviltantes e vulgarizadoras do amor e da liberdade
O que a mídia passa a tantos rostos marcados pelo sofrimento?
Enquanto o tão sonhado milhão do ‘Herói´ do Bial Atravessa em uma saga novelesca tão ao gosto da Globo Se estimula o espírito perverso de eliminação do outro, que coisa mais Neanderthal?
Outro dia acompanhava uma discussão de jovens alienados Que marcavam encontro para acompanhar passo a passo Toda a engendrada estocada de vulgarização das cenas Transmitidas em canais a cabo 24 horas.
As edições de programas como o tal ´Big Brother´ do Bial Afrontam valores já tão distantes do nosso cotidiano Como a ética, moral e os bons costumes, disseminando A venda de uma lógica nada diferente do Baú do concorrente Abravanel.
Assim, são para mim, sem expressão, Os rostos opacos de tanta gente que dissimula Ante o sofrimento de tanta outra gente esquecida Que consomem horas no divã de amargura, por pouca feitura.
Rostos esses que mergulham na busca da fama fácil Da projeção sem trabalho e sem esforço, modernos narcisos Ainda se divertindo na maior armação, inútil e fútil
Vazia e sem conteúdos, a Globo merece um prêmio por transformar sua obediente e cativa platéia em idiotas modernos.
Afinal, consegue extorquir em telefonema, e-mail e torpedo O duro quinhão com o suor de cada dia conquistado De inúmeras famílias, muitas delas ligadas ao padrão global ditado Pelo ´único´ prazer de ver alguém no muro, eliminado.
Esta é a lógica disseminada da eliminação Da perda do significado da alteridade Da necessidade da existência do ´outro´, da solidariedade
Da cruel escola global da violência que não começa nas ruas, mas captadas nas antenas, em nossos próprios lares a cada encenação...
Ah, se todos esses rostos anônimos Atores reais tomassem da vida o seu palco, inda que seja utopia E rasgassem as máscaras desses vendedores de ilusões, E argutos promotores de vilões.
Ah, se da laranja mecânica emergissem Um novo sentido de liberdade que não seja esta da libertinagem Do consumo imoral, de mentiras pregadas como verdade,
Talvez a sociedade possa ainda se libertar das correntes do monopólio desta total e despudorada sacanagem.
Rostos anônimos ainda, também têm olhares desconfiados Ouvidos perfilados Gestos comedidos
Mas o conjunto das expressões já demonstra o quanto estão perturbados,
Em contraste com o vazio das vidas Dos ´heróis do Bial´ no chulo picadeiro global Estes rostos têm história, idas e vindas
A eles sim reverencio como meus heróis, e não são fabricados, objeto de desejo, sedução ou de mercado, é o ser humano total...
AjAraújo, escrito em Março de 2007.
Por que não iniciamos um movimento em nossas entidades, representantes políticos (muitos de questionável representatividade, tá certo), meios jurídicos para responder contra tamanha insanidade?
Isto não é mais liberdade de produção, de imprensa, isto é invasão de privacidade e produção em série de personalidades distorcidas, sectárias e violentas.
Será este o espírito "global" de nossos tempos?
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