
Estátuas de Coral
Data 06/10/2009 15:49:19 | Tópico: Poemas
| Estátuas de Coral
Não queria partir sem te abraçar pela última vez. E disseste-me como escutar o ruído no âmago do silêncio, e ver a luz no meio da escuridão, mas não disseste que um dia partirias e permaneceste absorto na tua morte.
Falei-te, mas era como se não ouvisses, mas de repente enviaste uma lança de Luz e fogo que trespassou o meu ser, e ainda sinto o sangue que brotou então de minhas entranhas.
E zanguei-me contigo por não seres aquilo que eu procurava, e por eu não ser aquilo que desejavas encontrar.
Mas a vida era mesmo assim e o fio de prata de Ariadne tinha-nos unido para todo o sempre.
Com o meu corpo ensanguentado, e as mãos lavadas de orvalho, e ainda a tremer, percorri o labirinto do tempo, procurando-te sem cessar. Envolvi-me em mil deleites só pela ilusão de te ter. Submergi na antiga cidade submersa pelo tempo de um azul profundo e cintilante, e encontrei as ruínas de nós dois. Estátuas de pedra e sal banhadas pelo coral que resplandecia na luz matutina. E ali estávamos. Como sempre estivemos. Olhar em olhar. Visão de profundezas imersas na água azul escura. E desfiz o encanto, e abracei teu corpo, dando-te vida e trazendo-te, mais uma vez, para junto de mim, confundindo o tempo.
|
|