Fazes-me falta

Data 23/06/2007 13:46:04 | Tópico: Prosas Poéticas

Olhei para ti enquanto senti as tripas remexerem-me o interior, sequei as lágrimas com a manga da camisola, fechei os olhos e disse-te que fosses.

Acordei com o peito a doer-me, era uma dor tão grande e profunda, falta algo aqui, tenho o tecto branco, a secretária ainda atolhada de livros por ler, na mesinha de cabeceira jaz como morto o diário da minha vida, no chão espalhadas as roupas, na cama o meu corpo nu e o telemóvel perdido entre os lençois.

Depois tu foste com os olhos vidrados, viraste as costas ao mundo que construímos e desligaste o televisor, poupaste-me dessa telenovela mexicana do costume.

Levantei-me devagar, talvez a falta me esperasse no jardim, percorri todos os canteiros mas nada faltava, vi na piscina e a água estava como sempre esteve, límpida, transparente, à espera de um corpo que lhe interrompa a quietude. Não encontrei nada que me faltasse ali e sentei-me na relva olhando o céu cinzento. Vai chover...

Vi através da janela da cozinha o teu carro a arrancar debaixo da tempestade, vi-te partir a grande velocidade, sem um aceno, sem nada, sem uma despedida decente. A culpa foi minha!

Cheguei à cozinha com o intuito de fazer o pequeno almoço, curvei-me para apanhar um papel que estava no chão, ia amarrotá-lo e deitá-lo ao lixo mas antes tive de o ler, "meu amor, já não te amo! Perdoa-me mas encontrei outra pessoa". E a tua imagem caiu sobre mim personificando a minha falta e com ela caiu tudo o que deveria ter sido e não foi.

Teve de ser assim pensei enquanto me deitava, se não me amavas, se querias partir não iria ser eu que te iria impedir, quando se ama sabe-se dar liberdade, eu dei-te... encostei-me à almofada e observando o espaço vazio ao meu lado com os olhos repletos de lágrimas deixei-me adormecer.




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