Afectos Nómadas

Data 07/10/2009 11:32:01 | Tópico: Textos

Ousámos ser fazedores de Palavras. Dir-se-ia que essa condição de transformar a percepção em algo denso para os sentidos é uma fatal necessidade interior que gradualmente se torna numa missão imperiosa do nosso quotidiano, tão natural e necessário quanto o respirar.

Ousar criar momentos de Palavras não se reduz a um mero risco que ocorre sem equacionar impactos. É antes de mais uma atitude que, num impulso criativo, consegue o "milagre da concepção" e a responsabilidade instala-se.

A capacidade que encontramos em recolher matéria multifacetada e de transformá-la de acordo com nosso imaginário inesgotável. Acreditar que vemos aquilo que ainda ninguém viu, oferecer ao nosso olhar a nossa afectividade, tudo aquilo que julgámos ser verdadeiramente único e eternizar num momento de criação tão especial, faz de nós seres únicos na Palavra.

O acto da metamorfose, espectáculo grandioso, tecido pela nossa intimidade através do ritmo das nossas emoções, leva-nos a momentos verdadeiramente apoteóticos. A magia com que fazemos as coisas, leva-nos a redescobrir e valorizar alguns porquês que anteriormente permaneciam enigmas. Desvendam-se mistérios encerrados em nós próprios quando conseguimos libertar a Palavra outrora aprisionada e que neste espaço e momento tem o condão de nos contagiar.

A palavra não se sedentariza, é a mais perfeita forma de comunicação dos afectos nómadas.



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