Café

Data 08/10/2009 21:18:37 | Tópico: Prosas Poéticas

Emerge da xícara uma espécie de consternação, um abatimento quente, enquanto ela comprime os lábios com o mesmo vigor como que aspira a fumaça lenta - própria das tardes sem retorno – e tenta sem sucesso um meio sorriso.
O conteúdo negro que lhe espia o momento parece fundir-se com suas olheiras num só terreno absurdo onde o germe da paz nunca nascerá.
Ela leva aos lábios a louça muda e uma vez ingerido o poderoso componente, dá-se ao inquietar característico dos infelizes.
Em sua mente borbulham convicções diluídas em incertezas, desejos que não se resolvem, atitudes desconhecidas que prometem mantê-la eternamente prostrada numa cadeira metálica à beira da chuva.
Um carro para e o homem acena arrancando-lhe do oco onde dormia. Veio ver a casa.
Não sabe ainda que não tem quintal.



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