Momentos de mim

Data 12/10/2009 19:48:56 | Tópico: Prosas Poéticas

















Voltei ao meu refúgio, tinha saudades de sentir a protuberância dos calhaus, saudades deste sol que me aquece a alma, deste cantinho que me fala e escuta atentamente os meus desabafos silenciosos.

Hoje o mar cobre-se de serenidade, enrola-se suavemente nas pedras da praia, estou só, fisicamente falando, mas sinto-te em mim, no sol que me beija, nas vagas dançantes, no murmúrio do meu pensamento, todos falam-me de ti.

Sabes? Pensei que já não tinha mais lágrimas para chorar, pura utopia, elas continuam a deslizar silenciosamente, sulcando a minha face de sal, confluindo no meu colo arfo. Não penses que me afaga o sofrimento, não, não é isso, neste momento a paz preenche-me.

As lágrimas são desabafos que limpam as mágoas, as decepções e as saudades, também sabe bem chorar, quando o choro desliza silenciosamente, secando-se na quietude do sol das 11 horas.

No céu azul raiado de ténues nuvens, o rasto de um supersónico que provavelmente atravessará o atlântico, com escala em outro local onde as pessoas vivem como eu, como tu, com os mesmos dilemas em labirínticos viveres, como todos nós, meros seres humanos racionais ou irracionais, (dependendo da perspectiva com que os analisamos).

Sabes? Tudo o que existe, existe na ambivalência, até mesmo o mar também é traiçoeiro, mas isso… tu conheces bem, sentes nos espinhos que ainda permanecem cravados na tua carne e no cheiro das pequenas gotículas de sangue que de lá transparecem.

Deixa que alguém…as limpe com água destilada, verás que o cheiro será outro, parecer-te-á o cheiro pulsátil da vida que tantas vezes nos abandona ao nosso destino.

Pedi-te para vires ter comigo, após o almoço, lembras-te? Não vieste, entendi-te, mas não entendo…. Entendes-me? Gostava de conhecer o que já conheço, sentir o que já sinto, mas tu não vieste.

A nau regressa, coloca-se no meu plano visual, continua majestosa repleta de sonhos. De vez em quando lança-os ao mar e as ondas transporta-os até mim, mostrando-me que não estou só.

Por agora paro de escrever, estendo-me preguiçosamente, abandonando o meu corpo à dócil natureza e voo até aí, em lugar nenhum envolta na quimera da vida, na minha quimera, permanecendo à tua espera na infinidade do tempo.

Quem sabe, talvez hoje ainda apareças.

Escrito a 12/10/09



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