4 tempos e 1 poema inacabado

Data 13/10/2009 12:23:03 | Tópico: Poemas

E tu, e nós quem somos?

I
Figuras urgentes que se desvanecem
esquemas indecifrados,palpites
palavras, sussurros, ilusões
passos no silêncio
um Poema inacabado…

…Mas nenhum tempo é clemente
contra um fundo maligno de imagens presentes
no tempo que se dobra ou volta de gavinhas afiadas
em desejos ardentes para dar uma minúscula tigela na palma da mão,
uma fervura encoberta de emoções,
atentar débeis passagens por cima do caos,
dos vácuos,
do nada que se abre aos nossos pés
e faz-nos precipitar de cabeça…

…Tenta-se a noite mais calma
rendidos,
deitados no colo terno das valquírias,
reanimar o corpo moribundo pelo calor, raro
pelas sementes de fogo
pelo pólen
pelos pirilampos que se espalham por cima do chão que pisamos,
uma promessa agridoce
uma luxuriante fragrância
uma vistosa ambrósia
uma concha de luz por cima do assento,
ou mais de perto, o céu que escurece por cima de nós…

II
…Oh neste tempo absorto
neste fresco da noite arrepiante
como eu queria sentir nossos tons e acentos
que não se consomem!

Afloras fragmentos, chagas entre os dedos,
enxames de cinzas para em poeiras perdermos
para sempre a minha pena, no teu sempre poema,
como quem se perde ou morre na inspiração nossa sem tempo…

III
…Mesmo que não pareça,
é um poema que te escrevo
parido devagar
letra a letra
verso a verso,
à parca luz da lamparina,
em triturados grãos de areia de uma ampulheta quebrada…

…Mesmo que não aconteça,
é um poema iniciado
escrito torto por linhas invisíveis,
com meu sangue em tinta permanente
do princípio sem um fim…

IV
… Porque fazes-me falta
preciso da tua ajuda
e de ti a chamar-me de “ meu amor!”
preciso que te deites
e, que te dispas de fúteis adjectivos
até ao mais nu vocativo
e meu nome chamares,
ao puxares a minha mão
e de tudo o que preciso
para que este suposto poema finde
e, derrube os muros do amanhã.

E tu, e nós quem somos?




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