Que conta o tempo, como contas o tempo?

Data 25/06/2007 10:58:04 | Tópico: Poemas

Que conta o tempo, como contas o tempo?

Pelas vezes que o sol namora a lua?
Pelos sonhos que sepultas no gume da tua espada,
da espada que enterras em areias movediças?
Pelas vezes que és soldado da tua própria discórdia,
na tua própria guerra, em busca de concórdia?
Pelo toque monástico do recolher imposto às noviças?
Pelos gritos que pressentes no meu peito em sofrimento
quando rasgas na tua ausência a luz pura do dia,
na noite crua e fria, na noite do desalento?

Que conta o tempo
se a noite se explode, se a noite ébria borbulha
em nós e nós a dentro,
neste rio de distância, de inconstância e sentimento,
nesta fúria d'águas sadias em cascatas abruptas,
destas águas que se soltam das nuvens mais enxutas?

Que conta o tempo, amado, se cada segundo que passa,
do tempo que se clarifica no límpido de uma vidraça,
o “tempo” se nos torna mais escasso nesta luta sem palco
de não nos darmos ao abraço?
Que conta o tempo, querido, se não encontro os teus dedos
envoltos nos cachos dos meus cabelos?
Nem tão pouco os teus lábios aos meus ajustados?
Que conta o tempo, meu amado, se adormeço e acordo
e de novo durmo e não te encontro em nenhum lado?

Terá o tempo sentido?




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