
Psinapses
Data 17/10/2009 20:32:23 | Tópico: Poemas
| Tão belo e acessível me pareceu o mundo esta manhã Tão perfeitamente pálpavel e cheio de sentido Sentido radial sempre mas sentido afinal Profundo e verdadeiro sentido humano.
Me desfiz do respeito da gleba Outra falange me devorou E desta não pretendo fugir - Desta pelo avesso Só vejo futuro Beneverente futuro Máculas e dores Sim também claro talvez como não Mas ainda Claro e sumptuoso futuro De amizades sinceras Entre seres tão diversos E tão afins Amálgama pagã Livre de rótulos Livre de inseguranças e egoísmos desgovernados Livre da ganância asceta e dos dessabores dos dogmas - Ah vertiginosa queda Dos anjos modernos Ainda presas fáceis aos bramanismos e cristianismos E veja bem Que não dispenso à mística inegável Compreendo sua inexplicabilidade Compreendo sim organicamente o mistério de sua glória Mas a mente é só uma ferramenta Me faço aceitar A mente é mera instrumento ao instrumento maior Coração pulsante Claro que neste caso digo mente querendo dizer razão Mente no sentido vulgar de componente lógico da alma imortal Que há também a mente no sentido de controle ultramagnético do relâmpago interno sagrado Mente no sentido de abertura do labirinto e ativação completa do cerebelo.
Não quero usar a ciência pra confundir aos cheios de fé Se Deus existe Que importa Ele certamente há-de estar preocupado consigo mesmo tanto quanto nós estamos conosco mesmos Por isso Melhor não esperar muita coisa Como eu ao menos aconselho que não se espere de mim.
Não sei nem mais se dou Se sou Se o que fui e o que é se entrecruzam.
Creio que viver seja dar Mas dar a ninguém - E daí por isso tão fácil a intervenção divina neste ponto.
Quem se conformaria Em viver uma vida tão cheia de obscuro sofrimento Em nome de ninguém?
Em nome do vazio cósmico Ou do inanimado solar?
Quem se contentaria Com o fato de que todos os momentos Todos os sentimentos Que inclusive costumam passar tão quase completamente despercebidos Tudo enfim que há É em nome de ninguém?
E então o grande desafio Poderei viver minha vida Tão cabalmente banal Somente em nome de mim mesmo?
Poderei me conformar Me satisfazer e gozar Na iminência do silêncio desastroso Do anonimato irrevogável? Serei um dia feliz Sabendo sempre que tudo que faço Só pode ser em nome de meu coração Em nome de meu coração de carne e músculo Completamente insano em sua crueza?
E uma gama nova de valores salta à vista Ah graças aos bons céus Os ventos sopram e frutos maduros quedam das copas em meu jardim.
É este o hábito que quero O que é em nome de meu coração e nada mais.
Não em nome de minha inteligência Não em nome de minha vasta cultura Nem mesmo em nome do conhecimento Da evolução da honra da virtude nem mesmo em nome do próprio Amor!
Se há Amor E sei que há Agora me dou conta De que ele é o que se faça em nome do próprio coração.
Não em nome do próximo Não em nome duma pátria melhor nem dum mundo mais justo Não em nome de qualquer entidade Não não não mil vezes não!
É meu silêncio que me fará justiça Silêncio que ouvirá meu próprio coração Na treva de meu tórax E tirará disto os desígnios de meu espírito - Em nome deste silêncio que quero viver.
26 de Junho de 2008, São Paulo. ORGASMAGIA http://orgasmagia.blogspot.com/
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