Claro Que Não,Claro Que Não, Raquel.

Data 18/10/2009 14:11:40 | Tópico: Contos

Ao sair de casa para comprar o matutino, sabia que estava a repetir um gesto, de todas as manhãs. Ao entrar na tabacaria, a Raquel, escondendo-se atrás da sua longa cabeleira, e a meia voz, disse:
- peço desculpa, mas já não tenho o seu jornal. Confesso a minha perplexidade perante o que acabava de ouvir. Não era caso para menos. Um gesto repetido vezes sem conta, sempre com o mesmo desfecho.
Nunca a Raquel me tinha privado do meu jornal. Apesar das diversas razões apresentadas, para explicar a sua atitude não consegui compreender tal procedimento. Passei a não acreditar nas competências da Raquel, e o que é mais grave, não poderia, doravante, encarrega-la de qualquer função que implicasse um mínimo de responsabilidade. Num abrir e fechar de olhos a Raquel, por uma atitude impensada, passava de uma pessoa em quem se podia confiar a uma pessoa irresponsável, sem a mínima hipótese de poder refazer o seu erro.
O tempo foi passando e como nunca mais lhe comprei o jornal, a Raquel, num belo dia, acabou por desabafar, perguntando-me:
- não me diga, que deixou de comprar o matutino? Respondi-lhe,vagamente:
- claro que não, claro que não, Raquel.*


Poesiadeneno

* Da moral ou imoralidade das atitudes humanas.




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