Clarabóia

Data 18/10/2009 19:07:04 | Tópico: Poemas

Ele esperava.
Não sabia bem o quê,
Mas esperava.

Havia um vazio incômodo,
Uma clarabóia
Vazada no peito.

Ardia nele, perene,
A chama d’um sonho
Que o conduzia.

Andava pelo parque
Ou pelas ruas.
Era um cidadão comum

Que amava Beatles
E colecionava insetos...
Espetadas reminiscências.

Passou uma vida assim,
Esperando pelo que não sabia,
Com os raios a cruzar a clarabóia.

Um dia, numa madrugada órfã,
Ela chegou sorrateira,
Esgueirando-se por trás da cortina.

Deitou calmamente sobre ele
Sem dizer um nada...

Num estertor derradeiro
Ele, enfim, sentiu-se completo.


Frederico Salvo



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