
Fendas E Zéfiros
Data 18/10/2009 23:52:13 | Tópico: Poemas
| Sou um passado próximo Uma janela de sete dias Um furo no furor do banal Traço colorido no cotidiano.
Cotidiano pê e bê De sonhos infrutíferos Dos que estão em excesso Fadiga da terra e do amor.
Somos a flecha Locomotiva Bogatires de flúor Somos a flecha de fogo Que ascende à pira divina Que religa o antigo farol Dá segurança sorrateira Ao oceano imprevisível Sua magnética maternidade Genes e fenes dos sóis que somos Unidos somos a flecha Viajando retos Em direção da unidade de nosso silêncio.
Nosso silêncio Aquele que nos pertence e a ninguém mais.
Não porquê roubemos do silêncio alheio qualquer autoridade Nem porquê nosso silêncio seja especialmente relevante à evolução daquilo que o possível leitor considere como o mais essencial à evolução Mas porquê é nosso silêncio Nos pertence descompromissadamente.
Não importam os valores - Que ética ainda é redenção e salvação?
Quero a força do foco A solidão que abraça o infinito Que ressoa o infinito Em faíscas em olhares sinceros Em aplausos em suspiros em lágrimas em sossegos.
Quero a ternura dura A pedra rosa Jaspe doce Quero o azul invisível do rio do amor O verde que nutre cada ínfimo detalhe Quero todos os sonhos desamparados Todos os desejos inomináveis todos os ansejos impostergáveis Quero a brisa quente do meiodia O grande meiodia De nossa teia Nossas gerações porvir Jardins de nossas fantasias mais mundanas O desconhecido Que tecemos em nossas genealogias O elo com o futuro No samba desbragado A crista da onda Nós sabíamos Nós sempre soubemos Já tínhamos o comunismo Já tínhamos a lei unificada da relatividade gravitacional Já tínhamos a ciência cristal dos aceleradores de partículas e explodíamos supernovas secretas em nossos balangandãs sabíamos ser a onça o tatu o morcego o babuíno A fonte suprema da criatividade O infinito oceano de caridade Caridade déspota e ardente Nos incendiando mesmo nas madrugadas mais gélidas Dando norma a nossos ossos Pondo em fôrma nossas ânsias A vida nos modela E ainda temos nossas pequenas - Pequenas grandes - Escolhas.
Ainda temos os pontos finais Àpesar da libertação das vírgulas Prosa soprada Em contratempos povoados Cortejos lancinantes da nova era Era do novo vinho Do novo sangue.
Nossa era Tão repleta de primeiras vezes Tão transbortante de incógnitas e sucessos monumentais Este tempo tão incompatível com o tédio Época assaz profunda e real Sufoco lento Dum novo começo Que pelo amor Ah pelo amor Um dia há-de florescer.
Há-de bendita aflorar enflorir florescer fosforuscar Suingar raízes e copas junto de calcanhares e timos Ah nossos cimos Neve eterna No alto da cordilheira De nossa rara irmandade Branco caiado De nossos reikis transviados Dos terreiros de nossa ira.
Há-de bendita voltar sempre sorridente Mesmo que fria e moribunda Mesmo que abandonada Há-de triunfar em sua ruína Pois que sem ela não há esperança - Sem ela Não há qualquer quê.
Ai bendita retorne sempre Sorria-me de novo e sempre Por favor me dês sempre esta ternura De me fazer humano por tua doçura Mesmo que em tua doçura mais acre Mesmo que de lábios costurados e olhos furados Me perdoa Me dá sempre Quero tudo teu Quero ser você Ser você gozando mil vezes Eternamente esquecida Queimando Numa fogueira sagrada E então os frutos de nossas sementes Então de novo tudo que possamos inventar.
Vem e volta E mesmo que distante Mesmo que inelutavelmente distante O grande fogo Ah ele sempre queima E aos que esfriam Fica a alegria do relaxamento O supremo relaxamento Grato ao calor E também acostumado ao frio Uma esfera em si Mística holística Toda dança de minha vida Toda dança que minhas mãos e meus pés e todo eu já dancei Ah toda esta dança ela sim é minha salvação meu julgamento final.
Sou um furo Um tempo anormal.
Somos a flecha empaladora Rabo acima da ditadura.
Somos a tribo sem fronteiras Os reis sem pátrias Os últimos que serão os primeiros.
E quando a hora vier Esta hora que forço que venha Quando eu olhar pro meu agora Quando eu encará-la face a face a face a face a face a face a face - Sem dízimas periódicas - Quando eu vislumbrar meu instante O presente de minha presença Esbugalhando testa e pulmões Ah aqui estou.
Isto sou eu.
Um indivíduo com sua estória Um cristal carregando uma lembrança A memória de meus dias.
Memória viva Em que perambulo Sem lar senão meu coração E sem coragem senão o amor que tenho por meus fraternos.
Amo-os Ah como os amo Meus grande amigos.
Ah como estúpida e romanescamente os amo Talvez em minha fraqueza em meu espasmo sôfrego Porquê derramo lágrimas por ti Isto nunca ninguém me poderá responder.
Os amo esquecido Amo-os como vivo Respiro-os sem querer E depois querendo Mais e mais e mais e mais.
Ah como amo a amizade Amo o amor Redundante até bem brega.
E como um novo começo novamente se me apresenta.
Se me apresenta como o ruflar de meus dedos Traduzindo em folha nova sensações inéditas Como o sangue de minha prole pulsando em mim Meus filhos em mim meus filhos por aí aqui e ali.
Energia infinita do amor Que nos lança sempre na esquina A dor empurrando o resistente A esquina do fim do tempo Onde nossas alegrias convergem O vazio do nada vindouro Onde todas as alegrias tornam de volta à origem de si mesmas.
Quero este fluxo.
Quero a afirmação De nosso silêncio.
Na ruptura do tempo A mente transgredida pela ânsia de evolução Fito manso ao espantoso banal Tento não levar as coisas tão a sério E também não levá-las tão ao de leve.
Leve nisto e pesado naquilo O silencioso mantra do sim E toda saliência de símbolo Que nos permite ousadia e prudência.
Que nos lance inadvertidos Às mais altas esperanças Que as geometrias espirais nos abençoem Náutilus e berrantes prosaicos Chaves e fechaduras no mais absoluto breu.
25 de Maio de 2008, São Paulo. ORGASMAGIA http://orgasmagia.blogspot.com/
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