Lar doce lar

Data 20/10/2009 17:55:18 | Tópico: Poemas

Hoje apetece-me soltar as azedas
Aquelas, que nas alamedas da vida
Definem o regresso a casa.
Tão somente, apetece-me
Vestir as vestes usadas,
Em outros tempos usadas
Em que eu jurava serem
Aquelas, que sempre levar-me-iam
Ao aconchego do lar.
Uma lareira sempre acesa
Uma mesa posta
Uma toalha de linho,
A cheirar a sabão
Uma cama feita no chão
E no ar, as gargalhadas do eu, menina
Sem saber se havia ir ou ficar.
E a minha mãe , sempre a minha mãe.
Hoje, apetece -me colher as amoras
De quando em brincadeira
Me peguntavam
“gostas de amoras?’”
Eu que nunca gostei de amoras dizia que sim
E, alguém dizia: “ vou dizer ao teu pai que já namoras”
E o meu pai, sempre o meu pai
e meu irmão henrique a assobiar

Apetece-me secar os plátanos
não usar mais os lenços de papel
Apertar cada um nos meus dentes de cáries tratadas
cicatrizar as narinas mal tratadas
Sentir seus sémenes a escorrer
Sem o Rubro da morte
Numa glicose sem precedentes.
Apetece injectar-me de afectos
Ter uma overdose
Daquelas que não se definem
Daquelas que nos ressuscitam
Bem no meio dos tijolos doces
que só nos apetece edificar.

Lar doce lar.



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