Custa-me o sono que não chega

Data 21/10/2009 07:00:53 | Tópico: Poemas

Custa-me o sono que não chega

Tinha perguntado aos oráculos pelas novas profetizadas há muito,
Diziam-me ser o escolhido nefasto mal que purificaria o mundo.
Dei-me por inteiro, abrasei as roupas quentes, despi a mortalha,
Lancei o véu em lamentos dormentes, custa-me adormecer,
Passo pelas noites antigas, recheadas de aves e sons estranhos,
Custa-me o sono intenso que não chega, que me consome os olhos,
Canso-me da nascente estagnada, de águas lentas e vorazes,
Que teimam em passar sob as pontes, que teima em fluir no sangue.
Sou selvagem por natureza e guerreiro por escolha infame,
Uma ave de rapina de tez negra e asas petrificadas no alado esvoaçar,
Um predador inocente, ávido da noite oculta, transformada em prazer.
Ando pelas areias molhadas que me queimam a pele na ilusão,
Percorro os trilhos da maré, cavalgo as rochas isoladas,
Vem-me ao rosto o nevoeiro, frio, calmo e morto,
No oceano deposito meu tesouro,
Estagno com as fontes no topo das montanhas e deleito-me com a inércia, canto-lhe uma canção torpe e parda, cinza e esquecida.
Faço um pacto com o vento, dou-lhe todo o meu saber,
Faço um pacto com a brisa, dou-lhe toda a minha dor.



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