Lascívia

Data 21/10/2009 15:40:25 | Tópico: Poemas

Lascívia

Calo-me, silencio-me, purifico-me, endeuso-me,
sou arquivo morto, esquecido nas bibliotecas do tempo inerte.
Esquivo, alerta, podre, âmbar, mel e fel, torpe e rápido,
sou cansaço e obscuridade, clara manhã e noite apagada,
indolente, insano, enlouquecido com as primeiras chuvas.
Pela carência cansada, na infantilidade do meu amor,
sou fértil, virgem e estéril no nascimento, dou constantemente à luz.
Sou Filho Oculto do altíssimo, uma dualidade de sentimento,
uma vez louco e doente, outra vez sano e sadio.
Se um uma dor passageira viesse trazer em mim o esquecimento,
derrubaria fronteiras, elevar-me-ia nos céus.
Se uma candura no toque depositada em mim,
despertasse ecos suaves na cadência do meu coração,
se um bater mais lento, me matasse a ansiedade,
seria o encarnado no teu sangue e dormiria com ele.
Desejo um regaço onde ter palavras mansas e orgias entre mil amantes.
Quero-me assim, lascivo, carente de luxúria na minha pele,
mãos no meu corpo, corpos dentro do meu, o meu dentro de outros.
Quero-me assim, despido, sem pudor, preparado para o prazer.



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