Na ciclovia

Data 21/10/2009 16:42:22 | Tópico: Textos

Mordem-me os dentes gélidos desta manhã cor de ontem, sinto o hálito ferruginoso da noite que nunca passa, canto uma canção de fazer dormir a legião de pensamentos que me rondam a corrida.
A ciclovia se estende para além das minhas intenções e enquanto meu par de tênis agride a contra mão, o vento típico das quartas lambe-me o rosto limpo – não tiro os olhos da distância, dos quilômetros que me esperam, do quilo e meio que venho neles perder.
Passados os sessenta minutos deixo-me diluir pelas dores que já me alcançam as pernas, pelas lembranças monótonas que parecem nascer, musculares, a cada repetir de movimento.
Contorno o marco fincado no caminho e refaço com os mesmos passos a trilha sonora de se ouvir fugindo, notas íntimas que solfejo de volta pra casa, onde tudo é inesperadamente antigo.




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