Dar-me-ia como alimento ao céu estrelado
Data 22/10/2009 07:11:56 | Tópico: Poemas
| Dar-me-ia como alimento ao céu estrelado
Quisera ser orvalho nas amarras dos teus lábios, frenesim secreto e vestir-me de negros mantos, de veludo e cetim, comungar na pele imersa nos ventos a penugem das aves raras. Quisera ser tempo misto, nem ameno, nem gelado, um abraço só. Ter-me-ia iludido com as nuvens que passam, não fosse o teu olhar, dar-me-ia como alimento ao céu estrelado, não fosse o sono incerto, que me acalenta e me dá refúgio, me abriga quando neva em mim.
Não há sorte nas palavras, nem imensidão que as consuma. Abraçam-me os dedos rendilhados, calejados da terra agreste, os dedos mansos e torpes, que só um carinho apenas produzem, alimento-me dessa condição que é produzida em mim. Comparo-te ao néctar nas colmeias, produzido no calor da noite, comparo-te ao orvalho límpido no raiar do sol de cada dia.
Tristeza nas fundações do mundo e nas candeias subterrâneas, pelo amor que abandona, esquece, apaga, rasga e estilhaça, pelo amor que é negado, sofrido, perdido no tempo e na solidão, que desperta no frenesim meigo de um olhar iluminado.
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