A ironia de Descartes no drama de Hamlet

Data 23/10/2009 18:45:27 | Tópico: Poemas

O que vejo?

Se tudo é pensamento,há que corroer
Há que confundir.
Confundir tudo. Confundir o sono com a vigília
O verdadeiro com o falso
Confundir tudo numa única névoa
Nem que seja por um só momento fugidio,
Há que confundir e afundar-nos numa personagem que nos distraia
De preferência novelesca e que nos afaste da nossa realidade.

O pensamento não é pensamento se não for corrosivo
A ironia não é ironia se não for comédia.
Assim como uma criança que ri da tragédia e o velho chora na comédia
Tal como se faz a vida num sapo, ela faz de nós um sapo também
Há que aceitar e ser sapo de nós mesmos
Ter pensamentos batraquigráficos.

Não há coisa pior que os pensamentos profundos
Não há profundidade maior que um poço sem fundo
E o que tem lá? O vazio.
O vazio tem o lado de dentro?
Então para quê falar dele,
Parece-me mais uma solene vacuidade.

o que faço?

Devo ter ouvido que neste mundo não há senão destruir ou ser destruído
Humilhar antes de ser humilhado
Zombar para não ser zombado.

Com o pensamento é igual
Tudo é um, e o mesmo, há que confundir,
E quem não confundir, confunde-se e deixa de existir.

E se Descartes foi ficção logo não existiu, logo não pensou,
Mas melhor disto tudo foi Hamlet que inventou Shaskespeare
“ser ou não ser”, eis a questão.

Por mim que não sou e não penso, o mais libertador é duvidar que existo.

Confuso? Estou no bom caminho…




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=104124