Lágrimas que não quero

Data 29/10/2009 08:40:07 | Tópico: Poemas


Cantam-se em mim as neves geladas,
são queixumes, lamentos, gritos de veludo, aconchegados no prazer.
Dás-me lantejoulas sórdidas, lamento-te-me em mim.
Surripiei os ventos no altar molhado,
roubei o som das águas nas cascatas recém-nascidas,
cansei-te em mim na ondulação dos cabelos escassos.
Já me fazem falta as fragrâncias violentas da tua alma,
o corte lancinante, espelhado no futuro, ventre oculto do passado.
Quero reinados nas terras encharcadas de vestes mornas,
assassinar-me as impurezas e comungar ópios inebriantes.
Aconchega-me a ti, tenho saudades do ventre antigo,
albergue de todas as minhas ambições e onde fui feliz.

Agora só restam os ouvidos do primeiro grito,
rios de fluidos mansos que porventura se me nasceram,
agora só me restam prisões de sentimentos estranhos,
lágrimas que não quero,
toques podres e impuros, que não desejo,
palavras mansas nos meus ouvidos, que desejo estarem mortas.



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