Que Horas São?

Data 29/10/2009 14:47:01 | Tópico: Poemas

gasto as horas a olhar não sei para onde,
o meu relógio de uma hora, fugiu
reparte os segundos em alvíssimo pó gesso
neste fim do longe.

serei talvez, aquela que está certa, lá longe
estarei decerto atrasada, que horas são?
estarei por certo a exagerar,
rente ao masoquismo
aos superlativos
aos movimentos radicais.

ainda ontem à noite, quando foi ao certo?
saí para ir ver as horas na torre da igreja
plenilúnio suspensa na luz quase leitosa,
mas as nuvens baixas não deixaram ver
não cheguei a ter um profundo encontro pletórico.

no regresso, fiquei com a ideia de que me magoei
com qualquer indirecção, regida por um maestro louco.

ouvi batimentos que mais ninguém ouve,
acenei-lhes a minha simpatia,
mas senti que estavam longe
juntos a esta figueira do inferno
que agora parece feita de argamassa,
a comprimir a borrasca dentro de mim.

vou sair de novo, rumo a outro encontro marcado,
mas que apenas pressinto, não estou certa
talvez me cruze com aquele homem de capuz negro
aquele que tem um relógio de corda preso a uma corrente de prata metido no bolso,
como se carregasse uma culpa secreta.

Pode ser, pode ser que ele me diga a hora certa.

hora mortis hora venit



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