Sangue encantado

Data 30/10/2009 08:13:36 | Tópico: Poemas



Tenho um lampejo vão, saceiam-se as luzes madrugada,
a noite já se foi e amanheceu, sonhada, velada e antiga,
na sofreguidão marginal repouso nas traves do mosteiro,
penso-te como alma desaparecida, julgada, sem encanto,
possuo-te, na luz frenética, no chão sagrado.
Lanço farpas e lanças cravejadas de diamantes,
dou ao vento que passa o meu primeiro grito ao nascer,
a minha primeira palavra murmurada,
que não foi pai, nem mãe,
mas tristeza amena, lúgubre paixão, sangue encantado.

Ofereço à brisa o meu primeiro respirar,
a primeira luz que os meus olhos contemplaram,
a primeira dor no meu corpo frágil,
o primeiro sabor a leite materno nos meus lábios,
o primeiro pensamento que tive.

Ofereço-te num mar de estrelas,
o primeiro olhar entre nós,
no jardim da infância naquele dia.



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