Meu Luso do mês de novembro é...

Data 01/11/2009 11:24:56 | Tópico: Poemas

É com grande prazer que trago ao sítio a entrevista abaixo. A princípio a poeta homenageada seria nossa amiga Betha M. Costa, que por motivos pessoais não pode aceitar a indicação..
Tanto eu quanto a Betha, tentamos encontrar um outro colega que pudesse preencher esse espaço, mas, todos hão de convir, que não é tarefa fácil ocupar o lugar de uma pessoa previamente escolhida para ser homenageada. Diante da situação e das muitas tentativas frustradas, recorri a minha grande amiga Márcia Oliveira que, como eu, afim de não deixar morrer a ótima iniciativa proposta por nosso colega de Luso, Alentagus, concordou em ser a entrevistada do mês de novembro. A única ressalva colocada por Márcia, foi que a entrevista a focasse como leitora e não como poeta, já que não se considera como tal. Eu, apesar de não concordar com ela, respeitei essa colocação e deixo agora com vocês um pouquinho das palavras dessa amiga querida.



Querido amigo Fred,
Quero agradecer a você a oportunidade de colaborar contigo nessa situação difícil que se apresentou. Sinto-me lisonjeada, porém, já nos conhecemos há muito tempo e você sabe que sou uma pessoa muito comum. Sabe que tenho muita dificuldade em me expressar; sabe também que não sou poeta e que os textos que tenho aqui no Luso, são resultado de um demorado exercício de atrevimento ao descrever algumas das suas telas. Não tenho a sensibilidade de vocês poetas, nem o conhecimento necessário da língua portuguesa, nem mesmo experiência de vida suficiente para dar brilho à criatividade e sentimentos que vocês tão elegantemente expressam na poesia. Mas...vamos lá....

Pessoalmente tenho pouco a dizer. Sou brasileira e paulistana extremamente miscigenada. Minha infância, foi extremamente pobre, mas muito feliz porque ainda pude brincar na rua e com pés descalços. Sou formada em Publicidade e Ciências Sociais e bacharel em Geografia. Lecionei durante 17 anos no ensino público e particular daqui de São Paulo e, por motivos pessoais e de princípios, magoada e frustradíssima, deixei. Militei em alguns partidos políticos quando ainda acreditava em possibilidades... Viajei muito e convivi com diferentes culturas, isso me ajudou a formar uma consciência mais humana que procuro aplicar no meu dia-a-dia. Aprendi a arranhar alguns idiomas, o que me ajuda muito na relação com pessoas de outros países. Divirto-me estudando Esperanto.
Hoje, devido às circunstâncias, me dedico à massagem estética que aprendi a apreciar e a me sentir muito feliz com os benefícios que posso levar às pessoas, contribuindo com a saúde corporal e aumentando a auto-estima de quem tanto precisa. Sou leitora compulsiva e, seguindo você, vim parar no Luso. Aqui encontrei e fiz excelentes amigos. Presenciei vários momentos de superação tanto na poesia quanto na vida pessoal de vários Luso-Poetas.
Não tenho nenhuma autoridade para fazer qualquer avaliação literária, mas posso como leitora assídua, afirmar que aqui há inúmeros poetas que não deixam nada a desejar aos grandes e consagrados escritores. Evidentemente não poderia cometer a deselegância de citar nomes, até porquê são muitos, de qualidade inquestionável. Cada qual a seu modo, demonstra suas emoções e sentimentos mais íntimos, e com prazer, compartilha com todos. Obviamente, por ser uma comunidade democrática, vez ou outra há algumas intempéries; diferenças de opinião; vaidades exacerbadas... Isso incomoda um pouco, mas não lhes tira o brilho.

Não quero falar de Neruda, Pessoa, Saramago, Clarisse, Camões, Florbela e tantos outros. Gostaria sim, de reafirmar o valor de cada um daqui deste sítio, que procura com suas poesias, nos brindar a cada momento com sensações inúmeras; que através da sua simplicidade ou complexidade nos fazem pensar e refletir sobre a vida e que conosco dividem suas doçuras e amarguras.

Finalizando, agradeço infinitamente a todos que se dispuseram a ler meus “poemas” e até a comentá-los tão gentil, educada e generosamente. A você Fred por sua amizade tão singular, honesta e leal; pelos tão diversos momentos em que estivemos juntos, ora colo, ora ouvido, ora tristeza, ora alegria, receba todo meu afeto através desse ato. Peço desculpas a todos por ocupar um espaço que originariamente não era meu, mas ao mesmo tempo faço saber que o fiz com muito prazer e felicidade por me sentir um pouquinho mais perto de todos. Com muito carinho....

Má.


A miscigenção é uma característica marcante do nosso país. Você mesma é um exemplo vivo disso. Como você vê a influência desse fator na construção da sociedade brasileira?


Realmente não dá pra falar em formação do povo brasileiro sem tocar diretamente na palavra miscigenação. Índios, portugueses, africanos e imigrantes de muitos outros países são responsáveis pela formação do nosso povo. Vejo isso, hoje, de maneira mais positiva embora em muitos períodos de nossa história tenha sido um fato muito traumático, mas resultou numa cultura muito rica; sem igual. Devemos a essa miscigenação, nossa língua, nossas religiões, usos e costumes dos mais diversos. As diferenças sociais são terríveis mas, em contrapartida, é muito comum vermos nos grandes centros comerciais daqui a convivência pacífica entre povos que mantém relacionamentos muito difíceis em seus países de origem. Penso que se tornou uma característica muito importante para o nosso país.. Há problemas seríssimos relacionados ao preconceito racial, porém estamos percebendo que muitas coisas estão mudando por aqui; lentamente, mas estão acontecendo. Penso que nossa sociedade ainda esteja em desenvolvimento e que estejamos construindo uma identidade muito forte, reconhecida e respeitada no mundo inteiro. É preciso sermos otimistas.

Você nos diz em seu texto que, numa visão política, “...acreditava em possibilidades”. Considera-se hoje uma pessoa cética a esse respeito? Quais seriam , na sua opinião, as diretrizes que nos conduziriam para um futuro melhor no mundo globalizado?


Participei sim, num passado muito próximo, de vários projetos sociais patrocinados por alguns partidos políticos ainda como professora, o que me levou à militância política. Com o passar do tempo, como não conseguia identificar nada de concreto e de verdadeiramente a favor da população em geral, fui abandonando e me decepcionando de tal forma, até deixar definitivamente qualquer orientação política. O que acontece no Brasil é conhecido por todos. Está muito claro e estampado nos jornais do mundo todo e na grande maioria das vezes envergonhando nosso povo. Em relação à política que se apresenta, me dou sim o direito de ser cética. Quanto às diretrizes que nos conduziriam para um futuro melhor no mundo globalizado, na minha simplória opinião, penso que antes deveríamos nos deter internamente em reavivar alguns princípios básicos, dos quais posso citar a vergonha, justiça, verdade, honestidade e igualdade. Penso também que aqui cabe citar a importância (esquecida) da educação no desenvolvimento do exercício pleno da cidadania. É preciso sermos otimistas, mas a globalização pode ser muito cruel para os países mais pobres ou emergentes.


Assim como eu, você optou pelo caminho da massoterapia. O que a levou a abraçar essa profissão e que mudanças a respeito de si e do ser humano de uma forma geral aconteceram depois desse advento?


Como todo cidadão comum de um país capitalista, também tenho a necessidade do trabalho e do dinheiro para a sobrevivência. Após deixar 17 anos de magistério, procurei fazer alguma coisa que me proporcionasse satisfação pessoal e que me garantisse o mínimo de condições possíveis de manutenção da minha vida. Tudo o que procurava acabava encaminhando-se para o ramo da estética. Confesso que nunca foi do meu interesse. Sempre julguei que a estética, num país pobre como o nosso, devesse ficar em outro plano, não no das prioridades. Gostaria de ter conseguido ser mais forte e continuado minha carreira no magistério. Infelizmente houve um momento em que a decepção e a sensação de solidão e impotência diante do descaso e da indiferença com que são tratados os assuntos relacionados à educação foram muito mais fortes do que eu. Frustração e angústia tomaram lugar ante a possibilidade de fazer um bom trabalho. Mas o tempo passou e hoje estou satisfeitíssima com a escolha que fiz. Proporciona-me prazer e ao mesmo tempo é suficiente para minha manutenção. Consigo realização profissional, pessoal e ainda proporciono conforto às pessoas que me procuram. Foi um ato político...rsrs..


Poeta você diz não ser. Fato que eu sinceramente não concordo, mas respeito. Sendo assim,na sua visão de leitora, como acha que os visitantes do Luso, que sempre estão por aqui em grande número a lerem nossos trabalhos, percebem o sítio?



Fiz aqueles textos, como você sabe, a seu pedido. Você não faz idéia do quanto me custou a escrevê-los, mas jamais me negaria a um pedido seu dado o tamanho e a força dos laços de amizade que temos. Realmente não sou poeta. Sou muito atrevida, isso sim!
Gosto muito do Luso a ponto de ser suspeita de falar sobre ele. Penso que quem o visita, encontra leitura de qualidade, do popular ao mais erudito. Afora alguns excessos cometidos por conta da vaidade, aqui o leitor encontra bons amigos, leitura para todos os gostos, além de ser um lugar que proporciona momentos de muita emoção, viagens fantásticas pelos sentimentos mais íntimos de quem deseja nos brindar com a sua imaginação, com as suas idéias, com o seu conhecimento, experiência de vida e inclusive incentivo. Através das poesias, das prosas, dos textos enfim, o leitor pode viver o que quiser, amar, odiar, elogiar, criticar... Aqui se é quase livre. Daí o sucesso.


No texto em que nos presenteia, você cita autores consagrados. Quais seriam os seus preferidos? E quais as obras que até então mais lhe marcaram?



Esta é uma boa pergunta, porém dificílima de ser respondida. Vou citar alguns apenas para não deixar de respondê-la, mas certamente poderia passar aqui horas a enumerar obras de que gosto.
-A História da Riqueza do Homem, Leo Hubbermann; O Príncipe, Maquiavel; Não Verás País Nenhum, Ignácio de Loyola Brandão; e tudo o que eu pude ler de Camões, Cervantes, Pessoa, Lispector, Cora Coralina, Graciliano Ramos, Machado de Assis, José de Alencar, Poe, Neruda, ahhh.....e muitos, muitos outros.....


Para finalizar, antes de nos dizer sobre a sua escolha do poeta/Luso do mês de dezembro, peço que deixe para todos que por aqui vierem compartilhar dessa leitura, algum texto ou poema que seja marcante para você e que possa acrescentar a todos nós. Obrigado pela delicadeza e simpatia.


Fred querido, apesar da situação inusitada, adorei participar. Suas perguntas são excelentes e mereceriam um cuidado bem maior na elaboração das respostas. Peço desculpas pela forma simplória como as respondi. Gostaria de ter tido mais tempo....
Outra boa pergunta difícil de responder, mas vou fazer da forma mais simples que me ocorreu nesse momento. É um poema de Cora Coralina, que gosto muito e que me parece apropriado para inúmeras ocasiões. Esta, em especial.



NÃO SEI...

Não sei... se a vida é curta... Não sei...
Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira e pura... enquanto durar.



A você Fred pelos motivos que bem conhece, toda minha gratidão, afeto e sentimentos verdadeiros de amizade profunda. Muito obrigada por tudo.
Aos leitores que tão gentilmente estiveram aqui, meu respeito, carinho e agradecimento sincero pela bondade, paciência e compreensão.

Finalizando, gostaria de homenagear os amigos portugueses indicando para poeta do mês de dezembro, meu amigo Fernando Jorge Matias Saiote, o Alentagus, por sua sensibilidade, amabilidade, companheirismo e capacidade de nos brindar sempre com excelentes textos que além de emocionantes, são inteligentíssimos.

Carinhosamente,
Má.








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