Fado
Data 02/11/2009 08:06:47 | Tópico: Poemas
|
Cansei-me do adormecer moribundo, recolhi-me no altar sagrado, fui areia, grão, semente celestial, canseira vã, restolho, desfolhada no estio, marca tatuada, giesta, lírio e alecrim, devotos do vento, cansados, como eu, sentidos apurados.
Sou cheiro de uma aldeia passada, mó em moinhos abandonados, chãos pisados por vagabundos, à procura de estrelas no meu corpo cinza.
Sou matagal de amoras, pinheiro mergulhado no vento, flor silvestre, andorinha só, ave sórdida, solidão.
Um fado vem de madrugada cantar-me canções tristes, mando-o embora, já não o quero. Uma cara lavada, rasga-se num momento, enxugam-se-me as lágrimas, lavadas numa fonte mansa.
|
|