Manhãs mortas

Data 03/11/2009 08:03:01 | Tópico: Poemas



Há um arder melancólico no meu regaço,
no meu ventre rios fluem na maravilha amena,
respiro as águas caladas, silenciadas no desespero,
recuo perante a dor que se agudiza,
resguardo-me, protejo a pele da ânsia quebrada,
liberto a raiva indomável, penetro-a, a virgem casta.

Cansei-me das tuas canções desterradas,
dos maus agouros, da matança do carmim solar,
andei enganado nas sombras,
dormitei ao relento, o céu sabe o meu nome.

Comunguei no vestíbulo da morte,
adorei-te na sacristia e no claustro lúgubre,
atirei prazeres nas paredes amplas do negrume,
fiz-me imensidão, lugar perpétuo, oráculo de peregrinação,
relíquia venerada, ossadas devolutas, ardores de alecrim,
vesti-me de névoa nas manhãs suspeitas, tenras,
cruzei-me com espécies antigas,
dei-me a mim, devolvi-me ao vento e às marés.



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