Se uma ave viesse

Data 04/11/2009 23:06:29 | Tópico: Poemas


Se uma ave viesse, trazer-me o ar que me falta,
ressuscitaria nos braços do nada que me acompanha.
Se um corpo nascesse nas cores de um céu negro,
sonharia ilusões, manchadas com sangue e transtorno.
Agora minha Alma descansa em terras do infinito,
revolvem-se, em gritos, os lírios nas eiras. Os campos estão floridos.
Cantem-me uma canção para que embale e não mais morra.
Sonhem comigo na penumbra da sombra abrupta, queimada por dentro, escudada pela loucura, banhada em âmbar e mel cálido.
Se uma ave viesse, confundir meu coração,
me dissesse do sentimento, me sacia-se a carência, amarga, libidinosa.
São tempos calados, palavras rochosas, silêncios imersos,
são nuvens lentas, passageiras, essas, as que me abrigam,
na passagem de mim por mim, no compasso da agulha no tempo,
resquícios da funesta pira em que adorno meu santuário com chamas,
sobras que já ninguém quer, que não ousam tocar,
restos parados, fugidios do cansaço, melados no fel da emoção.
Quando quis, não me quiseste, quando me quiseres, já não te quero.
Sou assim, ave que não vem, dor que não acalma, chama que não arde.



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