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 A cantiga do bandidoData 06/11/2009 00:06:50 | Tópico: Textos -> Outros
 
 |  | - Por favor, ajude-me!Ajude-me, minha senhora! A senhora é mãe, não é?
 Foi assim que tudo começou. A campainha insistia, ansiosa e o simples toque fazia anunciar  o desespero em forma de gente.Corri a abrir a porta e na minha frente estava a angústia cravada num rosto másculo, de traços finos e perfeitos. A mão esbofeteava de forma reiterada a testa suada e a voz tornava-se acutilante à medida que implorava, literalmente,  ajuda para retirar do 2º andar-E, do prédio, a filha de apenas  2 anos de idade.
 - O senhor tenha calma!Diga-me, exactamente,  o que se passa?
 - Não há tempo!Eu deixei fechar  a porta, sem querer e a minha filha, de 2 anos, ficou lá dentro. Já tentei abrir a porta com uma radiografia, mas nada.Preciso de ajuda, de dinheiro para um táxi!Tenho de ir ao trabalho da minha mulher buscar a outra chave!
 O tom aflito e austero contrastava com os passos oscilantes, ora para trás ora para a frente, como se estivesse na sala de espera de um hospital nos momentos que antecedem o acto de ser pai.Hesitei, mas resolvi dar conhecimento ao Director da Instituição do que se estava a passar e este balbuciou algo do tipo:
 - Emprestem-lhe 5,00€ para o táxi.
 Aí o tom de austeridade elevou-se e o “pai sofrido” gritou com todas as letras, ao mesmo tempo que voltava a auto-agredir-se na testa:
 - Isso não chega!Tenho de ir e vir de táxi, preciso de, pelo menos, 10,00€. Por favor eu moro aqui no prédio, eu venho pagar.
 Logo se foi juntando gente no hall da Instituição e houve quem se oferecesse para o levar ao trabalho da esposa o que muito lhe agradou e ao que este respondeu:
 - Tenho, apenas, que avisar a vizinha da frente que já tenho boleia.É a senhora que me vai levar?
 A minha Directora ia responder que sim, quando o Presidente, que recusara olhar o indivíduo de frente, gritou:
 - Daqui não sai ninguém!Emprestem-lhe 10,00€, então.
 O indivíduo saiu à porta do prédio e perdeu-se nos seus labirínticos corredores.
 Posteriormente viemos a constatar que, afinal,  no 2ºandar ninguém tinha uma menina pequenina.
 Esta é uma chamada de atenção para mais um golpe que utiliza a “cantiga do bandido”.Neste caso se a minha chefe lhe tem dado boleia, o que poderia ter acontecido com ela nesse entretanto?
 
 Em Setúbal o golpe já é recorrente.
 
 Fica o alerta!
 
 
 
 Maria Fernanda Reis Esteves
 49 anos
 Natural: Setúbal
 
 
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