Areias cristalizadas

Data 06/11/2009 09:35:00 | Tópico: Poemas



Revolvo-me no lodo da tristeza crepuscular,
choro, rio, grito palavras insanas, soltas na maresia,
há uma folhagem murcha vivente em mim,
de olhares nublados, vestidos de fulgor,
de encantos de orgulho e volúpia semeada.

Minhas nuvens intensificam-se para a batalha,
chove frio e coral, engulo-me na dor molhada,
termina-me o culto vadio da maleita fusca,
agora já nada tresmalha a alma desgarrada.
Os desertos secam-me o dorso,
cavalgo águias livres nas encostas,
desfilo, negro, coberto de veludos antigos,
na praça chamuscada de sangue primordial.

Venta-se-me o peito aberto, as costas pálidas,
há na minha face o horror tépido da tormenta,
e nas minhas mãos salgadas um sabor fétido.

Mergulho-me num sepulcro de areias cristalizadas,
há uma chama em mim que teima em manter-se acesa.



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