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 Dos Paradigmas ExtemporâneosData 09/11/2009 02:01:47 | Tópico: Poemas
 
 |  | Deus morreu já algumas vezes Foi ressuscitado em outras formas e morreu de novo
 Mas continuam fazendo-lhe respiração bôca-à-bôca
 Continuam desfibrilando-lhe o tórax putrefo e bombeando-lhe donativos de sangue universal
 Morto e enterrado
 Foi exumado
 E seguem o trabalho de Frankenstein em tentar trovejar uma nova faísca no insidioso corpo
 Mosaico de rígidas covardias e trêmulas entranhas
 Inventam ainda hoje intervencionismos e passeatas que fazem ranger ainda outra vez as correntes enferrujadas e quebradiças do fantasma da maior consolação que o homem já nutriu
 Pesadíssimos
 Os crentes atemporais descartam toda realidade que os oprime com a clareza da obviedade
 Desprezam este pequeno avanço que nosso gênero alcançou dentre tantas batalhas sangrentas
 Travadas ora em nome do puro e simples domínio tirano
 Ora em nome de parâmetros civilizacionais minimamente acatáveis.
 
 Eu por minha vez não nego minha culpa
 Meus sufrágios
 Em tal âmbito vergonhoso
 Não nego que tenha ludibriado estupidamente um ou outro comparsa com prosaicas odes ao insondável
 Mas tento me retratar
 Mesmo que afogado neste anonimato
 Mesmo que somente me faça retratar frente a mim mesmo
 Em minha soledade.
 
 Se há um Deus
 E ele é sol e astros e natureza
 Então chamo-O eu de sol e astros e natureza assim como fazia o grande poeta noutra época
 Vejo a perfeição da divina criação como a mais impensada tosse
 O mais imprevisto espirro
 O mais inconsequente desatino
 O instinto mais carente de arbitrariedade e previsibilidade.
 
 E assim inventam-se novos consolos
 Nasce a doçura na saliva
 Como nascem os atuns na feroz corredeira
 Fortifica-se a arquitetura do coração
 Espelhando a geometria das colméias mais selvagens
 Desaparece a mais antiquíssima ira
 Sedenta de Eternidade
 A amarga voragem que age sempre em prol dum além-mundo
 Duma próxima encarnação.
 
 Não quero descartar a suprema afirmação do impossível Sim
 Veja bem ainda vejo um infinito de tempo entre meus dedos
 Mas sei que este infinito por ter um começo tem também um fim
 Fim no sentido de término mesmo
 Porquê achar fim no sentido de finalidade já é outra saga.
 
 Aprendi a confiar em meus instintos
 E me dei conta de que a originalidade do gênio
 O impecável no artista irrepreensível
 Nada mais são que meras consequências impontuáveis duma necessidade de significado.
 
 Que significado criei a mim mesmo?
 Como pude inventar minha verdade
 Este segredo irrevelável em que ninguém creria?
 
 Ah bem
 Honestamente
 Só aceitei ao fato recorrente de que não há um instante a perder
 E também ingressei na escola que ensina as profundas diferenças entre a solidão e o abandono de si.
 
 Em meio à argamassa disforme deste princípio dum novo milênio
 Sigo caboclando
 Sigo versando em instrumentália os aforismos de minha tropicalidade
 Vez ou outra sinto arrepios platinados percorrerem-me como a mais indesejada confirmação de que sigo um caminho valoroso
 Indesejada porquê tal caminho seja tão tortuoso
 Tão arriscado e vazio de recompensas
 Ao menos fica um vácuo sensorial no que antes era toda uma teoria incompreensível a respeito da justiça congênita à vida
 No que antes era a teimosia doutrinária dum constante comércio de culpas e punições
 E isto já é algo como uma recompensa
 Se é que um vácuo pode ser um bem
 Uma aquisição.
 
 Algo como um ultrarrealismo cantarola
 Saltita entre neologismos siderados e parábolas bem-humoradas
 Uma dança que é a transcrição do rutilar da presença em onomatopéias venturosas lidas em voz alta através de linguagem dos sinais.
 
 
 
 
 
 
 
 http://orgasmagia.blogspot.com/
 
 
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