Reparei que a poeira se misturava às nuvens, e, sem pôr o ouvido na terra, senti a pressa dos que chegavam. Disse-me de repente: "Eis que o tropel avança". Mas todos me olhavam como surdos, e deixavam-me sem responder nada. Vi as nuvens tornarem-se vermelhas e reperti: "Eis que os incêndios se aproximam". (Mas não havia mais interlocutores.) "Eles vêm, eles não podem deixar de vir", balbuciei para a solidão, para o ermo. E já por detrás dos montes subiam chamas altas; ou eram estandartes ou eram labaredas. Perguntei: "Que me vale ter casa, parentes, vida? Sou a terra que estremece? Ou a multidão que avança? Ó solidão minha, ó limites da criatura! Meu nome está em mim? No passado ou no futuro? Ninguém responde. E o fogo avança para meu pequeno enigma". Apenas um anjo negro entreabriu seus lábios, verdadeiramente, como um botão de rosa. "Death". DEATH? Por que me falas nesse idioma?, perguntei-lhe, sonhando. Em qualquer língua se entende essa palavra. Sem qualquer língua. O sangue sabe-o. Uma inteligência esparsa aprende esse convite inadiável. Búzios somos, moendo a vida inteira essa música incessante. Morte, morte. Levamos toda a vida morrendo em surdina. No trabalho, no amor, acordados, em sonho. A vida é a vigilância da morte, até que seu fogo veemente nos consuma sem a consumir.
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