Velhas Lágrimas

Data 10/11/2009 17:00:08 | Tópico: Poemas



Entoei uma canção ao mar, na noite silenciosa e estagnada,
cansei-me de não dormir, de morrer lentamente na insónia petrificada,
enclausurei-me num casulo hermético, torpe e translúcido,
silenciei a dor, dei-lhe uma morada, recolhi-me com ela.
Revolve-se a noite caída, moribunda, vagueando por dentro de mim,
calam-se as aves soturnas, lúgubres, ansiosas por me devorar.
Viajo para longe, tento esquecer, abafar coisas em mim,
confundo-me com a intemporalidade agreste e insaciável,
anseio por um descanso, um repouso lento e alívio.
Existem melodias em mim que desconheço, ecos passados,
colhem-me os ventos, levam-me no dorso do desconhecido,
morrem-se-me as velhas lágrimas, enrugadas, secas,
envelhecidas no esplendor das chamas, brasas e paixões,
morrem-se-me os medos e o temor da despedida,
morrem-se-me as mortes incessantes, ruidosas e putrefactas.
Lamentam-se-me as viúvas dos meus corpos idos,
faço funerais com as piras dos pensamentos insanos e sem corpo,
transparentes, etéreos, que se esfumaçam na eternidade.



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