Libera me

Data 12/11/2009 17:06:00 | Tópico: Poemas


Libera me, Domine, de morte aeterna, in die illa tremenda:
Quando caeli movendi sunt et terra.
Dum veneris judicare saeculum per ignem.


Liberta-me do sangue branco da pureza imaculada que me corre vadio pelas artérias. Deixa-me só, abandonado, no desfiladeiro do beco sem saída de um qualquer corredor lúgubre da noite. Desfila nas ruas a prostituta da vida insana, meretriz de mil homens, atormentada pelo segredo, cansada, apenas viva por um carinho teu. Anseio pela ternura que não chega, pela angústia mãe que se chama fogueira libertina, dádiva à nascença, dom perene e amor imortal. Agora já não me engano com a podridão cega, nem com as asas aladas que me dão para sonhar. Os céus e a terra mover-se-ão na dor da partida. O teu ventre parirá o herdeiro apocalíptico da insanidade e eu serei liberto para o eterno da podridão obscura no fétido pântano do teu interior noctívago. Liberta-me, Senhor, das amarras de Ti, da morte eterna, nos dias da Tua ira sobre mim. Derrama sobre o meu peito as bênçãos do fogo, nos séculos antigos da alma. Liberta-me, Senhor, liberta-me, penetra-me dentro, fecunda dentro de mim mais uma razão para sonhar.



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