Canto do Silêncio

Data 14/11/2009 18:46:53 | Tópico: Poemas



Andam-me fantasmas pelo corpo, uivam lá fora.
Vigiam-me pelo medo de me perder, ecoam melodias de morte anunciada, acalentada pela paz incerta e hipócrita dos malditos...
Rodeiam-me já as parcas negras que tecem o futuro,
num ritmo de sons abruptos, articulados na dor,
alcançam-me os lamentos que me aborrecem,
que me quebram as lembranças e me dilaceram as sílabas de saudade.
Voltam os silêncios inebriados na noite murmurada em oceanos,
gritam ecos estridentes, palavras em línguas aborrecidas,
a voz prolonga-se no infinito, lenta, doente, arrastada.
Há uma paz silenciosa, uma descoberta sem ruídos não nascidos,
há um sobrevivente e um náufrago, na encosta desse cântico,
inebriam-se-me os sentidos, já em êxtase, pacificados,
alimentam-se-me as muitas almas, luzes fuscas, veladas nas sombras.
Calam-se-me as palavras, devoto-me ao inerte silêncio pardo,
ao calado grito que conduz ao entorpecer do que resta do meu corpo,
alegram-se-me em mim os olhares que tenho, sou como ele,
o cântico inebriante, marcado pelo velho tempo, sujo pelos compassos perdidos nas palavras que se repetem.



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