...no silêncio do desejo...

Data 15/11/2009 14:45:10 | Tópico: Crónicas

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<div style="text-align: justify;">…era tarde, na lareira ouvia-se o estalar da lenha, amordaçada, inquieta pelo fogo que ardia sem compaixão. Os olhos caíam nas lajes frias de granito que, como legos encaixados, cobriam aquela parte da cozinha de campo. Sentia-se o entardecer rápido da tarde Outonal. Lá fora, as árvores, já meias despidas, balançam os seus ramos numa sinfonia de saudade esperando o escurecer, mais um, deste devir de recatamento bucólico e interior. O escano encostado à parede, já com alguma centena de anos de idade, continua a suportar o peso dos companheiros que por ali descarregam o peso do dia. Mesmo ao lado, junto ao fogo, uma panela de três pernas, ferve as mentiras colhidas dos campos, cozinhando mais um jantar, ouvindo-se a dançar dentro dela, os convidados que, juntos, farão o repasto para a ceia que se seguirá lá para o fim da tarde. Com a samarra nas costas, encostado a madeira de castanho do escano, o ser olha para as paredes, escurecidas pelo fogo, que libertando as cinzas do renascimento, faz do branco e alvo estuque a trevosidade negra que se vê e sente. No pensamento corre desenfreadamente o nada vazio, o pensamento da misericórdia dos dias parados e esquecidos dos seres que habitam a solidão granítica da terra. Surge, primeiramente, o bater leve na janela, seguindo-se uma guerra de salpicos atiçados pelo Vento Norte, cantando e recitando em voz alta “…este tempo é meu…recolhe-te…”. A alma agreste, que vive neste limbo esquecido, olha lá para fora, esboça um sorriso melancólico, murmurando no seu pensamento a felicidade que tem por ter um casebre que o protege da borrasca. As horas passam devagar, o tempo parece que pára, dorme eternamente por entre montanhas e vales dos granitos profundos. Mais um toro é atirado para o fogo da vida, ardendo e sendo consumido pelos desejos da ressuscitação na terra onde as suas cinzas repousarão. A cara rude, provocada pelo frio da montanha, é amaciada pela doçura do ser que habita dentro dele, dando-lhe a simplicidade de uma gota de água pura, vertida nos riachos circundantes. Não deseja o mundo, nem tão pouco a iluminação eterna, quer, simplesmente, que a sua companheira de vida não o abandone, nem mude, a solidão que sempre foi pura com ele e que lhe dá o maior tesouro da sua vida…o silencio da paz interna.
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