Não me leiam mais

Data 17/11/2009 17:30:54 | Tópico: Poemas


Tentei dormir, meus olhos não fecham,
Tentei adormecer, meus braços não deixam, meus lábios não se acalmam, minha boca não se fecha, meu pensamento não me larga, foge vadio pelas ruas que desconheço, onde mora o prazer que procuro, onde se sujam de pecado as almas dos que não vivem mais.
Tentei o descanso, mas meu coração não se acalma, a tempestade não passa, as chuvas não param de tombar sobre minha face molhada, encharco-me de suor, dou do meu corpo o meu espírito, fétido, na lembrança da mata ainda por descobrir na madrugada morna, morta e cansada.
Levanto-me molhado em odores que não quero, partilho leitos, corpos entrelaçados, odores de pensamentos voluptuosos. Não me queiram na santidade, nem nos vossos conventos apodrecidos, aconchegos leves nos claustros e das madrugadas violentas. Fechem-me na minha cela, dai-me pão do céu mergulhado no sangue do morto que depositais na cruz de madeira podre. Já não me visto mais com a farda do cordeiro, nem com o medalhão queimado, agora sem sentido, louco pelas visões alargadas, inebriado em ópios de ilusão. Estou cansado, não me leiam mais, teçam-me em segredos nos teares da vossa vida, inebriem-se em mim e no meu peito aberto.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=107499