Assim fico... Adormecida.

Data 17/11/2009 21:14:25 | Tópico: Poemas

Aperto-me no gesto contido dum abraço, no silêncio da noite, suspensa, numa cama presa a colunas de granito.
No chão, sardinheiras com aroma acre, rubras, brancas, folhas verdes de veludo,
inebriada estou nesta envolvência.
Luzes ao longe, quem sabe, de barcos perdidos.
A olhar as estrelas abro as mãos e lhes peço
que desçam
e partilhando a cama,
me entreguem luz, a luz resplandecente.
As estrelas fugiram, antes da madrugada intimista.
Nem uma vela acesa,
luz trémula que fosse, fumo a esvair-se,
juntamente com o fumo do cigarro
que apago com a ânsia de o ter acesso.
Mas ah, como me apetece acendê-lo, soprar o fumo em deleite, vê-lo subir!
A vela terminou, da vela resta o pavio,
na minha alma a solidão,
a solidão que tantas vezes me apetece,
nesse espaço meu onde respiro e me vejo.
Descaíram os braços,
sem que abraçassem aquele abraço.
As estrelas partiram, perseguidas pelo nevoeiro.
Vem agora abraço quente,
com o teu calor,vem condensar o nevoeiro
tenho tanto frio!...
Quis partir ao teu encontro mas tive medo.
Tive medo que aquele abraço me arrastasse,
em vagas alterosas e me projectasse
para caminhos,
que não são os meus caminhos.
Este nevoeiro confunde-me,
os meus olhos ficam frágeis,
os meus passos lentos,
os meus braços estendidos,
cansados,
tão cansados de esperar.
Quero que a madrugada me beije,
que me abrace e me inspire
para te dizer em poema o que tenho dentro,
o frio que me gela, icebergue nos meus passos.
E, assim fico,
com a caneta na mão,
tentando escrever um poema, em gestação tardia,
neste parto difícil de que resulta,... nada.
E assim, na rede adormeço,...
na desolação de um filho por parir
ausência de poema,
vontade daquele abraço
E assim fico....
Adormecida.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=107525