Deserto Oculto

Data 20/11/2009 08:31:56 | Tópico: Poemas



Espero encontrar-me um dia, sem pensões deambulantes,
na busca do prazer odioso, carente, mesclado com o desejo,
encontrar-me um dia, sem lamentos, nem medos, encharcado em suor.
Estilhacem-se em mim correntes de plumas, queimadas de máscaras breves, apodrecidas na escuridão.
Esvoacem-se em mim, por dentro, lá no fundo, gritos no vento, lentos.
Cortem-me os aguilhões que me derrotam,
queimem-me na brasa da loucura, míope, surda e muda,
levantem-me aos céus e concedam-me adorações.
Sou como a última nuvem no céu nocturno,
a derradeira estrela na morte da obscuridade.
Saceiem-me com a dor da melancolia e com o prazer do sangue.
Hoje sou um indelével, ardente, vento, um dia como nenhum outro,
sou espelho esvoaçante na calma e na pluma perfumada,
um odor que me trespassa, que me fere por dentro,
um cheiro de sémen, criado nos paraísos, de sabor a sal e a maná,
no deserto oculto das mansões, em orgias sem sentido.



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