Biver: ver duas vezes

Data 24/11/2009 13:12:58 | Tópico: Poemas

Disperso a atenção, separado
na dispersão.
Atrás desta visão, vendado
Páro atento a nada.

Ajo então, como se não
A ver tudo do fundo.
Todo o acto é vão, nesta posição
De observador do mundo.

Reparo que sim, estou em mim
A reparar que sim.
Saro-me assim, infectado
De mim curado.

Doença sem cura, que cura
e se arrasta em duração.
A crença segura, que já não dura
Alastra-me em difusão.

O corpo sente, a mente mente
E sente a mentira.
Um outro dentro, com outro ao centro
Sente o que ela vira.

Longe do que sinto, num labirinto
Pinto sensações.
Mas aquilo que sei, que criei
Nunca foram ilusões.

Sou meu próprio intruso, alheio
Alienado de tudo.
Ali ao lado, e no meio
Iludo-me confuso.

Olho-me nos olhos, molhados
Que me olham a ser.
Escolho-me a sorte, os sonhos sonhados
E o que viver.

Vejo, vejo que vejo
Mas desejo não saber.




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