Não respiro o que não tem voz

Data 25/11/2009 16:15:03 | Tópico: Poemas



Há um nevoeiro misto, neblinas, névoas intensas,
coberto por um véu translúcido, transparente à luminosidade,
há um ser incerto, acabado no vento, modelado em barro leve,
há um espaço quente, uma brisa amena, que cheira a cor estranha.
Vem indolente o reinado lento, perene no anoitecer.
Chega de canduras breves, elevadas no fumo negro das catedrais,
fartam-me as noites negras, recheadas de frio intenso,
crescem-me as luas em quatro partes, dão-se a mim.
Creio na pele e no corpo indolor, carente de uma alma viva.
Creio na terra apodrecida e na tundra tocada em pensamento.
Não desejo o que não vejo, nem toco no que é intocável.
Não amo o que não pode ser amado,
nem respiro o que não tem voz.
Não falo do que é silêncio, nem oculto o que não ouço.
Desejo o desejável e toco no prazer feito carne.
Amo o que me trás amor e falo dos cheiros perfumados.
Silencio a palavra lenta e sem sentido,
Tenho em mim os sons quebrados do que é obscuro.



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