Folha à deriva

Data 04/12/2009 17:31:32 | Tópico: Poemas

Assim,
fui círculo inquieto
de contínuas vagas concêntricos,
no eco difuso e emerso
da pedra arremessada
às águas limpas de um lago.

E, sim,
quis ser eu a própria pedra,
ir ao fundo,
mergulhar
no lodo do mundo e de todas as descobertas...

Enfim,
reaprendi:

Lagos são águas paradas,
e pedras... são arrastadas
nos desígnios das tormentas.

Enfim, fui folha
à deriva
num rio de um só sentido,
sem margens onde me abrigue...
Frágil folha
ao vento acesa,
que as águas não apagam
nem margens a querem presa,
sou fronteira entre águas livres:
sob mim, funduras férteis,
sobre mim, chuvas fecundas,
e nas voltas,
duas páginas onde escrevo
as coisas que compreendo
e que por mim vão passando
-
dores em letrinhas miúdas,
alegrias ilustradas,
lendas que as pedras me contam,
memórias de pouca monta,
saudades que me não deixam naufragar.

Como folha, sou um mapa
de lugares que nunca vi,
segredos que não desvendo
e tudo que já escrevi.

e as nervuras do meu limbo
são cicatrizes de mim.

Gosto mais de mim assim.




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