Data 18/02/2010 18:34:03 | Tópico: Poemas -> Saudade
(Escrito em 1988, pouco depois de ter perdido a minha bonequinha preciosa, que se transformou em Anjo...)
Não, Senhor...
O que vês em mim não é raiva Quando maldigo o cruel dia Que me roubou uma flor...
São lágrimas, Senhor...
O que me adivinhas na alma Não é ódio pela noite fria Que me trespassou de dor...
São lágrimas, Senhor...
O vazio que me corrompe E me limita à letargia, Não é vida sem amor...
São lágrimas, Senhor...
Não é desprezo pela vida, O desalento que adia O renascer do meu fervor...
São lágrimas, Senhor...
Nem é adaga pungente, A saudade que me asfixia E me deixa amargo sabor...
São lágrimas, Senhor...
Não é piedade de mim A pequenez que me aniquila Em miserável estertor...
São lágrimas, Senhor...
A negação da verdade, O medo do novo dia, Temer do Sol o fulgor...
São lágrimas, Senhor...
Não é terminal desalento, Ou cobarde paralisia, Nem arco-íris sem cor...
São lágrimas, Senhor...
O que ficou em mim não é mágoa Se escolheste para teu Jardim A minha mais tenra flor...
São lágrimas, Senhor...
E, se o meu botão de rosa, Essa predilecção merecia, Perdoa a suprema dor...
São espinhos, Senhor...
Um tão humilde tributo Para ter uma Estrela-guia, Um doce Anjo-protector...
São graças, Senhor...
Eu Te agradeço, Senhor, Pelo filhos que a minha Vida Guarda ainda, como penhor...
São bênçãos, Senhor...
Mil graças Te dou, meu Deus, pelas duas flores que me restam, Promessas de Primavera, no meu precioso jardim... Sei que as carícias de um Anjo voam na brisa envolvente... E o perfume que paira...