A tua normalidade dava uma novela mexicana

Data 05/12/2009 01:33:43 | Tópico: Textos -> Surrealistas

A tua vulgaridade é um romance de cordel. És tão normal que metes dó, divides-te em dois pedaços, um em cima o outro em baixo, com traço de fracção no meio, só para te anulares melhor. Atrevo-me até a dizer que quando se inventou o zero, já estavam a prever o teu nascimento. E quando o homem pensou o que era a esquerda e a direita, era já a prever onde te ia colocar.

És tão vulgar a falar. Jurei um dia ver um tremoço a cantarolar no meio dos teus dentes, a fazer uma gentil serenata à mini que explorava as caves do desconhecido. As tuas unhas são normais, nada mais. Julguei por momentos ver um sinal estranho no teu braço, mas depois vi que não era nada. A tua vulgaridade mete nojo mesmo.

Dizem que és vulgar na cama. Não te experimentei, de tão vulgar que és. Dizem que gemes como um disco riscado, que gritas como um botão cansado de ser carregado. Pelos vistos, até aí és mecânica, previsível. Até que chegou o dia em que percebi a tua magia. A tua vulgaridade era única. Quase especial, de tão vulgar que era. E aí, deixaste de fazer sentido. Acordei e percebi que te tinha sonhado, na mais pura vulgaridade do meu pensar imaginado. Era impossível existir alguém assim...

Mas isto não ficou por aqui. No dia seguinte, mal dormido, e queixoso da comida também, e por sinal da bebida, vi-te a passear, vulgar, no passeio dos comuns pedestres. E já te tinha visto todos os dias. Eras um enigma especial, um tesouro por abrir, um ser tentador, e por sinal tentado também. Aquele sinal da bebida, que uma coisa leva à outra, e por aí adiante.

Ficava então a questão: eras sonhada? Real? Enigma? Tremoço entalado na dentuça vulgar?

Eu acho que és tão vulgar como a minha imaginação. E tenho a certeza que nessa noite não dormi bem.


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