Bocas caladas

Data 18/12/2009 12:12:07 | Tópico: Poemas



Erva-doce, daninha, habitáculo no coração,
endeuso-te libélula desperta,
liberta, não enclausurada,
flor primeira da Primavera.
Campo que floresce,
milheiral de oiro, pelo pôr-do-sol,
nave nocturna, esférica, de cristal,
fealdade no fel, melosa abelha na doçura.
Grito que arde no gélido sangue,
sapiência nas folhas magras,
renascidas, outonais, cinzeladas e esculpidas.
Dedos que se moldam, ao som do sangue,
que circula, tonto, pelos carreiros sem luz.
Onda abrupta, molhada na areia,
duna tosquiada, fechada em asas que voam,
terra castanha, mole, tépida, caminhada,
tons de prazer, cansado da espera.
Órgãos que vivem, apenas para o cântico,
mãos que se lançam, nos céus, em prece,
bocas caladas, que se beijam, nas noites, em segredo.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=111554