Capa da Trombas "há que penar"

Data 21/12/2009 19:23:08 | Tópico: Crónicas


Perdido o plano a por um qualquer solar numa rua que também é santa, tivemos que recorrer a um tal de plano b pela madeira gasta do corrimão, que suspirou à sedução dumas meias de rede em tom escuro... acende-se um cigarro à mão onde o copo de vodka deslumbra com a rodela de limão... é-nos indicada a zona red light onde os eflúvios se condensam em volutas incandescentes... a música desfila pelos ecos dos corredores e vãos de escada... começam os brindes em círculo, aos ausentes e presentes, por entre o esplendor dos flash's (“sorri, é para a trombas”)...

A pista de dança ali mesmo ao lado e, muito embora os acordes e as luzes não convidassem propriamente aos fascinantes movimentos dos corpos, decidimo-nos a penetrá-la misteriosamente... o canto, ao fundo, esperava por nós, onde, após alguns minutos dum ritmo sonolento, houve alguém que quis pular à mesa de mistura a fim de colocar a bjork na pista... mesmo com uns saltos de 8cm (uma acesa discussão em torno do comprimento dos ditos, havendo mesmo a comparação com o órgão que pende no homem) foi incapaz de chegar lá, e assim a influente cantora islandesa ficou em lista de espera por tempo indeterminado...

Mesmo suspirando por melodias mais intensas, quentes e envolventes, rasgamos a arena durante algumas horas até o cansaço se apoderar do corpo, ainda que nos rostos pairasse a boa disposição, resultante dos desvarios que eram lançados por entre mais um trago, ou um cigarro que se fundia na noite... uma fila desordenada nos esperava para o bengaleiro, onde fomos contemplados com uma notável sessão de crioterapia que durou cerca de 30 intermináveis minutos... ainda que com o cérebro a congelar e os ossos a tilintar de frio, resistimos até à hora de pagar, conseguindo até contagiar a alegria nos desconhecidos com devaneios do arco da velha (“queres pagar, então, há que penar!” era este o slogan da noite)... chegados à portagem do dito bengaleiro, não é que nos esperava a “última ceia”!... não bastava a dádiva do mais eficaz tratamento de pele, à base de ventos nórdicos, ainda nos ofertaram o pão e o vinho, e nem o judas nos haveria de entregar aos sumo-sacerdotes... que mais poderíamos nós desejar?...





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