O Tejo que nunca esquecerei...

Data 05/07/2007 13:34:46 | Tópico: Poemas -> Saudade

Estou aqui
Sentada à beira do Tejo
À minha direita
Tenho a ponte
Sob uma enorme nuvem negra
Ali parada
Como uma eterna ameaça
Um cacilheiro Sesimbrense
Atracou neste instante
Deixando-se invadir de gentes
Com destino à outra margem
Ainda à minha direita
Altivo, majestoso
Ergue-se aos céus
O Cristo-Rei...

À minha frente
Do outro lado do rio
O lado industrial de uma cidade
Até lá
Estende-se um imenso tapete cinzento
De águas poluídas
E levemente onduladas
Morrendo em pequenos sons solitários
Verdadeita angústia de um Tejo
Que outrora fora jovem e saudável...

À minha esquerda
O Terreiro do Paço
Movimento
Barulho
Passos apressados

Sinto frio
Visto o casaco
E uma gaivota sobrevoa o rio
Com gestos e cantares tristes
Mas graciosos
Que fazem lembrar um filme parado
De cenário cinzento
E silêncio intenso

Subitamente, veio-me à ideia
A cidade de Praga...

Desejei
Das profundezas do meu ser
Que este corredor de pedra
Com bancos de madeira
Fosse só meu
Durante breves minutos...

Avisto um porta contentores
Rodeado de mar
Gaivotas e nuvens negras
Assim mesmo
Aqui e agora
Sou só eu e o Tejo!

O Tejo que eu nunca esquecerei...

Manuela Fonseca

(27/12/93)


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