POEMA DE NATAL ACHADO NO FUNDO DA GAVETA

Data 23/12/2009 03:52:08 | Tópico: Poemas

fico pensando que devo dizer a mim mesmo meias verdades
mas eu não sei o que não são meias verdades
se cantam uma cantiga de natal lá fora
ponho-me triste
- meu irmão quisera eu saber - e por que não? -
não cantas um samba de breque
um fado
um baião
um rock
um frevo(como nos carnavais do recife)
uma marcha-rancho
ou qualquer outra merda
que hoje me faça dormir em paz
sem que me venha à cabeça esta data?
esta data?!
mas meu deus que data?!
tenho alguma conta a pagar amanhã?!
devo no mercado?!
algum encontro marcado comigo?!
ora se não tenho nada disso foda-se
quero a liberdade do meu nariz
andando a pé pela rua
sem remorso
de ignorar a terrível Noite Feliz
(há canções que são de inteiro mau gosto)
por que esta noite há de ser feliz?
saio pelas ruas do bairro onde moro
as luzes das casas estão todas acesas
porque por obrigação quase litúrgica
esta noite exige que todos sejam felizes
: queria só um maço de cigarros
um gole de uísque
quem sabe eu escreva uma prece
(quem sabe - não garanto e nem estou obrigado)
àquele que nasceu pobre
miserável
numa estrabaria
em belém que não conheço
e por certo nunca vou conhecer
que não deixe que faça da noite uma mentira
de árvores e lâmpadas
mas que ponha na consciência dos homens
um pouco de boa vontade
e faça o mundo feliz
(merda!)
noite feliz uma ova!

(manhê essa farofa me deu azia)
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júlio, 1976, publicado no Jornal Iniciativa Privada, do movimento Poesia Marginal, postado como o movimento exigia, nos banheiros públicos de são paulo, iniciativa do poeta aristides klafe.





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