
Insignificância pura
Data 02/01/2010 00:33:48 | Tópico: Poemas
| Insignificância pura, esta que sinto Como uma maçã no meio de um pomar. Excepto que eu já caí e vejo as outras, Lá em cima, A crescer cada vez mais. E eu aqui No chão sem conseguir subir Nem crescer… Nem ser… Sinto que por dentro estou cada vez mais podre Como se tivesse em mim todo o doce do mundo, Que é todo o amor que tenho p’ra dar, E de repente secasse cada vez mais À medida que o Tempo passa E que eu passo pelo Tempo.
Sinto uma tremenda solidão. Tão grande Não no mundo, mas no que ele me dá, e Naquilo que sou dentro dele. Tão grande, Tão maciça que nela cabem todos e tudo E mesmo assim nada me faz companhia. Porque Por mais acompanhado que esteja por fora, Estou sozinho cá dentro, e é cá dentro que o que há É como se não houvesse.
É cá dentro… É cá dentro que tudo nasce, E onde tudo acaba por morrer. É cá dentro que nasce a inspiração Para ajudar os outros. E morre a inspiração para me ajudar a mim. É cá dentro que nasce a esperança do melhor Mas é cá dentro que ela morre, a cada dia que passa E que não encontra o prometido. O prometido Que desejo dia e noite, e luto, e arranco com força. O prometido que os outros cumprem, mas que Em mim apenas é prometido.
É cá dentro que está a solidão que ninguém completa, A tristeza que ninguém entende, Os pensamentos que todos julgam insanos, O desejo que se diz ser banal, A visão do mundo que ninguém Vê.
Porque é uma bênção ser cego, e ignorante Mas não ver a cores o mundo que se esconde, Num olhar ou num gesto, Não reparar nesses pequenos pormenores, Em que o amor se revela É morrer, não é estar vivo.
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